Rio de Janeiro, 16 de Junho de 2025

O samba carioca se despede de Bira Presidente, do Cacique de Ramos

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Domingo, 15 de Junho de 2025 às 18:59, por: CdB

Nascido em 23 de março de 1937 no Rio de Janeiro, filho de mãe-de-santo e pai sambista, Bira desde criança frequentava rodas de samba, onde teve a oportunidade de encontrar figuras lendárias, como Pixinguinha e Benedito Lacerda.

Por Redação, com ABr – do Rio de Janeiro

Velado ao longo deste domingo até segunda-feira, o corpo do músico e compositor Bira Presidente, morto aos 88 anos na noite passada terá a cerimônia de despedida das 14h às 16h30, na Capela 9 do Cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap, Zona Norte da Cidade. O velório foi aberto ao público, segundo o Grêmio Recreativo Cacique de Ramos, que, em nota nas redes sociais, lamentou a morte de seu fundador em decorrência de complicações relacionadas ao câncer de próstata e ao Alzheimer.

O samba carioca se despede de Bira Presidente, do Cacique de Ramos | Bira Presidente, fundador do Cacique de Ramos, marcou o samba carioca com seu pandeiro e bom humor
Bira Presidente, fundador do Cacique de Ramos, marcou o samba carioca com seu pandeiro e bom humor

“Um nome que não deve ser lembrado apenas como integrante de um dos principais grupos de samba do país, o Fundo de Quintal, nem tampouco como liderança do emblemático bloco Cacique de Ramos. Ubirajara Félix do Nascimento, seu nome de batismo, foi principalmente uma das maiores referências do pandeiro na história da música”, disse a agremiação, em nota.

Nascido em 23 de março de 1937 no Rio de Janeiro, filho de mãe-de-santo e pai sambista, Bira desde criança frequentava rodas de samba, onde teve a oportunidade de encontrar figuras lendárias, como Pixinguinha, Benedito Lacerda, Bide, João da Baiana e Honório Guarda, e de aprender a tocar pandeiro.

A história de Bira no samba começa para valer quando ele e os irmãos Ubirany e Ubiraci fundam, juntos com outros moradores da Zona Norte do Rio, em 20 de janeiro de 1961, o bloco ‘Cacique de Ramos’.

 

Geração

O primeiro presidente da agremiação foi indicado por ele e tratava-se de um amigo, o Valdir. Mas ele ficou apenas seis meses no cargo, sendo Bira eleito então. Em pouco tempo, ganhou o título de Bira Presidente, permanecendo na função de forma vitalícia.

O Grêmio Recreativo Cacique de Ramos passou a desfilar no centro da cidade e cresceu tanto que gravou vários discos nos anos 1960 e 1970. Mas foi em 1972 que tudo mudou na história do Cacique, de Bira, do samba e da própria música brasileira.

Ao ganhar um terreno com tamarineiras e mangueiras da prefeitura, na rua Uranos, em Ramos, o bloco passou a ter sede própria, e três anos depois criaria as rodas de samba de quarta-feira, que apresentaria ao país uma geração de sambistas supertalentosos.

 

Servidor

Beth Carvalho, que ficou encantada com a roda de samba, queria levar aquele ambiente para o seu novo disco, ‘De Pé no Chão’, lançado em 1978. A batucada que fascinava a cantora — executada por Sereno no tantã, o irmão de Bira; Ubirany no repique de mão; e o próprio Bira no pandeiro — era ainda amadora, mas foi ajudada no estúdio com petiscos e bebidas para recriar o clima do Cacique.

Foi desse reconhecimento no disco de Beth que se formou profissionalmente o grupo Fundo de Quintal, com os seguintes integrantes —Bira Presidente no pandeiro, Ubirany no repique de mão, Sereno e Neoci no tantã, Jorge Aragão no violão, Almir Guineto no banjo e Sombrinha no violão. O primeiro disco do grupo saiu em 1980, ‘Samba É no Fundo de Quintal’.

Foi após a profissionalização na carreira que Bira Presidente deixou o emprego de servidor público para se dedicar exclusivamente à música.

O ‘Fundo de Quintal’ ganhou projeção rapidamente, lançou mais de 30 discos e ganhou diversos prêmios, como o Grammy Latino em 2015, mas também foi marcado por mudanças de seus membros ao longo de mais de 45 anos de história. Bira e Sereno foram os únicos que permaneceram da formação original. O irmão Ubirany também se manteve até morrer de Covid, em 2020.

 

Pagode

Bira Presidente inovou a forma de tocar pandeiro de nylon no ‘Fundo de Quintal’, antes visto como instrumento de mero acompanhamento ou como um elemento performático do samba. Ele estabeleceu diálogo do pandeiro com outros instrumentos do samba de forma mais harmoniosa, criando a chamada levada de samba do Cacique.

A técnica teria mudado quando o grupo passou a contar com baterista, em meados dos anos 1980, atendendo a uma demanda da indústria. Por conta disso, Bira passou a executar o pandeiro de forma mais sincopada, preenchendo a música com seu toque pessoal.

Essa característica chamou a atenção e o fez acompanhar o primeiro time da música brasileira, de Emílio Santiago a Zeca Pagodinho, e também alguns grupos de pagode, em shows ou gravações de estúdio.

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