Rio de Janeiro, 17 de Setembro de 2025

O MST não é o Sendero Luminoso

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Sexta, 02 de Fevereiro de 2007 às 13:55, por: CdB

Acabo de receber do Brasil um e-mail com uma reportagem publicada no Estadão sobre a "utilização de recursos oficiais do governo suíço" para financiar atividades do MST, através de ONGs. Escrevo esta coluna não para desmentir, porque a informação é exata, qualquer pessoa pode obtê-la indo ao site da ONG, não é nenhum segredo. Mas para mostrar como se pode desvirtuar uma informação verdadeira e transformar em algo duvidoso e quase delituoso uma ajuda a certos segmentos de nossa população, em termos de alimentação, maternidade e agricultura, por se inscreverem no contexto do Movimento dos Sem-Terra, o diabolizado MST.

Senão vejamos, já na primeira frase o objetivo é claro: "Recursos oficiais do governo suíço estão servindo para financiar atividades e programas do Movimento dos Sem-Terra". E um entretítulo, insiste: "Entidade até treina sem-terra em informática". Tentou-se mesmo envolver o embaixador brasileiro em Berna, que teria ficado surpreso. Qual o objetivo da matéria do Estadão sobre subvenções da Suíça ao MST, mesmo se são legais e se enquadram no programa de desenvolvimento e cooperação com países estrangeiros? O destaque dado a essa matéria só pode ter sido o de gerar um mal estar e provocar um corte na subvenção dada pelo governo suíço à respeitada e conceituada ONG E-Changer aos projetos do MST.

Na época do deputado Julião, que militava pela reforma agrária dentro do programa das reformas de base do governo Goulart, a solução foi o golpe. Entretanto, agora não há clima para golpe num governo com folgada maioria absoluta, num pleito correto e sem fraudes. A solução, então, é diabolizar o MST ao máximo e tentar forçar os outros países a cortarem verbas às ONGs implantadas no Brasil com o objetivo de ajudar numa melhor distribuição das riquezas.

Farc

"Alô governo suíço, alô deputados e senadores suíços, tem dinheiro suíço sendo desviado para financiar a revolução agrária no Brasil. Cortem a subvenção!" – é mais ou menos isso que o artigo publicado no Estadão quer provocar na Suíça. Não faz muito tempo, o vice-presidente colombiano, provavelmente alertado também pela imprensa de direita de seu país, denunciou a Suíça como cúmplice por deixar funcionar um site das Farc, dentro da Suíça ou pelo menos com o final CH, de Confederação Helvética. E acusou duas associações ou ONGs, a Ação de Quaresma, católica, e o Pão para o Próximo, protestante, de utilizarem subvenções suíças em apoio às Farc. Foi preciso mesmo intervenção da ministra das Relações Exteriores para cortar a onda.

Provavelmente foi esse caso suíço-colombiano a inspiração para se criar um caso suíço-brasileiro, desta vez envolvendo o MST. Só que o MST não é um movimento guerrilheiro, nem é o Sendero Luminoso. É reconhecido internacionalmente como um movimento que luta pela reforma agrária.

Direitos humanos

A Suíça é um país de direita, de banqueiros, de neoliberais, mas isso não impede que seja um país respeitador da democracia e dos direitos humanos. Mesmo os suíços de direita não aprovam os latifundiários e, como têm um profundo respeito por seus agricultores regiamente subvencionados, reconhecem a necessidade de uma melhor divisão de terras no Brasil.

Conheço a Suíça, tenho criticado duramente a cúpula de banqueiros e empresas que governam o país, mas tenho certeza que dedurar para o governo suíço que "dinheiro do apoio ao desenvolvimento está sendo desviado para o MST brasileiro" vai dar em nada. Ao contrário, visto a má fé da matéria, vai pegar mal para o jornal e para sua credibilidade junto às autoridades suíças no Brasil, conhecedoras da seriedade da E-Changer.

Nesta altura, a Suíça espera que dêem certo os planos sociais do governo Lula, pois um país com melhor distribuição de rendas e riquezas e reforma agrária se torna um melhor parceiro comercial, além de ajudar na estabilidade mundial.

A ministra democrata-cristã Doris Leuthard vai mesmo se encontrar com Lula, em Brasília, nos p

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