Paulo Kliass
Dentre os diversos instrumentos de política econômica à disposição do governo, ganham destaque os dois aqui do título. No primeiro caso, a taxa de juros, estamos diante de um mecanismo que permite atuar sobre aquilo que o economês trata como "política monetária". Já no segundo caso, a taxa de câmbio, trata-se de um referencial que os analistas utilizam para avaliar as operações sobre o universo da "política de comércio exterior", mais precisamente sobre exportações e importações.
Em geral, os modelos econômicos procuram interpretar os fenômenos como se estivessem frente a um mercado, onde os elementos mais importantes para análise são o preço e quantidade (tanto de oferta, quanto de demanda) da mercadoria considerada. Em última instância, a lógica não é muito diferente daquela que explica a dinâmica do "mercado da batatinha na feira". Se há uma oferta grande de batata, o preço tende a baixar. Pelo contrário, se há muita gente querendo comprar batata e os vendedores não têm estoque suficiente, o preço da batata tende a subir. Estamos diante aquilo que Adam Smith chamava de a "mão invisível do mercado", que regula as quantidades de oferta e demanda de forma aparentemente mágica e inexplicável.
Nessa perspectiva de "precificar" de forma generalizada os fenômenos, passa a valer uma lógica semelhante para mercados bastante mais sofisticados do que o acima descrito. Assim, o mercado monetário estabelece o seu preço de referência, o chamado preço da moeda, que nada mais é senão a taxa de juros. De sua parte, o mercado de moeda estrangeira também passa ter o seu preço de referência, a taxa de câmbio. Porém, exatamente em função de sua complexidade, tais atividades não podem ficar à mercê da tal mão invisível, em busca de um suposto equilíbrio entre a oferta e a demanda. Por se tratarem de mercadorias muito especiais para o funcionamento do conjunto da economia de um país, aqui entra em ação o Estado, sinalizando e intervindo para ajudar na busca do tal equilíbrio mágico.
No caso do mercado monetário, a racionalidade que embasa a definição da taxa de juros é o controle da quantidade de moeda existente na sociedade, somando-se o papel moeda em poder do público, os valores nas contas bancárias, os recursos dos bancos para empréstimos, entre outros. Controlar a moeda é uma forma de controlar a atividade econômica, o consumo e a produção. Isso se dá por meio da taxa de juros. Se ela é considerada elevada, os consumidores deixam de comprar hoje e optam por poupar seus recursos. Já os empresários, também deixam seus planos de aumentar a produção para mais tarde, em função do alto custo do dinheiro. Ou seja, diminui a quantidade de moeda de moeda disponível e não se corre o risco de um aumento excessivo na demanda por bens e serviços, que seria a responsável (segundo essa ótica) pela inflação.
Como as relações entre os agentes econômicos nesse caso é bastante complexa, delega-se ao Banco Central o papel de árbitro, ou seja, de estabelecer a taxa de juros de referência para toda a sociedade. No nosso caso, a Selic. Em resumo, ela seria a taxa que o Estado estaria disposto a pagar para que as pessoas e as empresas não colocassem seus recursos no circuito da produção/consumo: esses valores ficariam "poupados" junto ao Tesouro Nacional. Como não se tem acesso a essa "repartição", para falar com o "responsável", mais uma vez a intermediação das operações para quem deseja poupar é feita pelos bancos e instituições financeiras, que oferecem ao público seus produtos como "fundos de investimento" e outras modalidades de poupança.
O que importa reter é que a taxa de juros realiza a clivagem entre os volumes de recursos que a sociedade está disposta, num determinado momento, a alocar entre o consumo e a poupança. Assim, se a taxa de juros está num patamar elevado, seus efeitos são de caráter recessivo. Ela atua contra a ampliação da atividade econômica.
Já com a t