Proposta apresentada pelos EUA prevê trégua de 60 dias em conflito. Grupo palestino se diz pronto para discutir implementação do acordo. Israel envia negociadores ao Qatar.
Por Redação, com DW – de Gaza
Diplomatas de Israel partiram neste domingo rumo ao Qatar para reabrir negociações indiretas por um cessar-fogo com o grupo palestino Hamas, segundo a emissora pública de TV isralense Kan.

Na sexta-feira, o Hamas havia informado que respondeu “com espírito positivo” a uma proposta de trégua na Faixa de Gaza mediada pelos Estados Unidos. Na ocasião, disse que estava disposto a iniciar as negociações para implementar o acordo.
As conversas, mediadas pelo Catar, Egito e Estados Unidos, têm como foco um cessar-fogo de 60 dias e a libertação de reféns ainda mantidos pelo Hamas. Também abre discussões para pôr fim ao conflito.
“O movimento entregou sua resposta aos mediadores, que foi caracterizada por um espírito positivo. O Hamas está totalmente preparado, com toda seriedade, para entrar imediatamente em uma nova rodada de negociações sobre o mecanismo de implementação desse acordo”, disse o grupo em seu site oficial após realizar consultas com aliados.
Os esforços para garantir um cessar-fogo temporário estavam paralisados há meses, mas os mediadores apresentaram recentemente uma nova proposta que prevê a interrupção das hostilidades por dois meses, a libertação escalonada de 10 reféns israelenses e a devolução dos restos mortais de sequestrados que foram mortos.
Na última terça-feira, o presidente dos EUA, Donald Trump, disse que Israel já acatou a mesma proposta de cessar-fogo. O conflito entre Israel e Hamas já dura 21 meses.
No sábado, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, sinalizou disposição para retomar as negociações, mas frisou que as mudanças pedidas pelo Hamas não eram aceitáveis.
Publicamente, as posições das duas partes continuam distantes. Netanyahu reiterou que o Hamas deve ser desarmado, algo que o grupo se recusa a discutir.
No entanto, o premiê sofre pressão para acelerar as conversas e é acusado por críticos de adiar as negociações para se manter no poder.
No sábado, milhares de pessoas foram às ruas de Tel Aviv para pedir o retorno de todos os reféns mantidos em Gaza, “sem seleção”.
Dos 251 reféns capturados durante o ataque de outubro de 2023, 49 ainda estão presos em Gaza, incluindo 27 que o exército israelense diz estarem mortos.
Ajuda humanitária permanece em disputa
Apesar da resposta positiva, ainda há pontos que precisam ser negociados. Um dirigente palestino de um grupo aliado ao Hamas afirmou à agência de notícias Reuters que ainda há preocupações com a liberação de ajuda humanitária, a passagem pela fronteira de Rafah com o Egito e a clareza sobre um cronograma de retirada das tropas israelenses.
A entrada de ajuda humanitária em Gaza se tornou um dos principais atritos entre as partes em tentativas de acordos passados.
Em duas tentativas de trégua anteriores, intermediadas pelo Qatar, Egito e Estados Unidos, houve uma interrupção temporária dos combates, juntamente com o retorno de reféns israelenses em troca de prisioneiros palestinos, mas as agressões retornaram.
Netanyahu deve se encontrar com Trump em Washington na próxima segunda-feira. O presidente americano se diz confiante de que a “proposta final” do acordo será efetivada. “Esperamos que isso aconteça. Estamos ansiosos para que aconteça em algum momento da próxima semana”, disse Trump a jornalistas. “Queremos tirar os reféns de lá.”
A Jihad Islâmica, aliada do Hamas, disse que apoia as negociações de cessar-fogo, mas exigiu “garantias” de que Israel “não retomará sua agressão” quando os reféns mantidos em Gaza forem libertados.
Ataques continuam em Gaza
Segundo autoridades palestinas de saúde, ataques israelenses mataram ao menos 138 palestinos em Gaza entre quinta e sexta-feira.
Profissionais de saúde do Hospital Nasser, em Khan Younis, no sul do território, relataram que por volta das 2h da manhã o exército israelense lançou um ataque aéreo contra um acampamento ao oeste da cidade, matando 15 palestinos deslocados pela guerra.
Já as forças de Israel afirmaram que as tropas “eliminaram militantes, confiscaram armas e desmantelaram postos do Hamas”, além de atacar 100 alvos em toda Gaza, incluindo estruturas militares, depósitos de armas e lançadores de foguetes.
Mais tarde, palestinos se reuniram para realizar orações fúnebres antes de enterrar os mortos da noite anterior.
– Já deveríamos ter tido um cessar-fogo antes de eu perder meu irmão – disse chorando Mayar Al Farr, de 13 anos. Segundo ela, seu irmão foi morto a tiros em outro incidente. “Ele foi buscar ajuda, para conseguir um saco de farinha para a gente comer. Levou uma bala no pescoço”, contou.
Famílias de reféns pedem acordo imediato
Na sexta-feira, familiares e amigos dos reféns mantidos em Gaza se reuniram em outro protesto em frente a um prédio da embaixada dos EUA, pedindo que Trump consiga um acordo.
Os manifestantes montaram uma mesa simbólica de jantar do Sabbath, com 50 cadeiras vazias representando os que ainda estão presos em Gaza.
Ruby Chen, 55, pai de Itay, um jovem americano-israelense de 19 anos, que se acredita ter sido morto após ser capturado, pediu que Netanyahu volte da reunião com Trump com um acordo que traga todos os reféns de volta.
Itay Chen, que também tinha nacionalidade alemã, servia como soldado israelense quando o Hamas realizou seu ataque em 7 de outubro de 2023, matando cerca de 1,2 mil pessoas, a maioria civis, e sequestrando outras 251.
A guerra retaliatória de Israel contra o Hamas devastou Gaza, deslocando a maior parte da população de mais de 2 milhões de pessoas e provocando fome generalizada.
Segundo autoridades de saúde locais, mais de 57 mil palestinos foram mortos nos quase dois anos de combates, a maioria civis.