Com cartazes e gritos de ordem, os movimentos denunciam que Castillo foi vítima de um sistema corrupto e racista. Em 16 meses de governo, o ex-presidente foi alvo de três tentativas de impeachment e teve cinco investigações abertas pelo Ministério Público contra ele próprio e seus familiares.
Por Redação, com Brasil de Fato - de Lima
O Peru vive dias intensos de crise após a destituição e prisão do ex-presidente Pedro Castillo. Partidos políticos e movimentos populares realizam manifestações na capital, Lima, no sul do país, em Arequipa, Ayacucho, Ica, Tacna e no leste, em Cusco, para exigir a convocatória de eleições gerais. Um grupo de manifestantes também se mantém em vigília em frente à prisão de segurança máxima onde Pedro Castillo está detido.
Com cartazes e gritos de ordem, os movimentos denunciam que Castillo foi vítima de um sistema corrupto e racista. Em 16 meses de governo, o ex-presidente foi alvo de três tentativas de impeachment e teve cinco investigações abertas pelo Ministério Público contra ele próprio e seus familiares.
Organizações de esquerda que compuseram a base do governo de Castillo defendem a realização de eleições com um referendo para a convocatória de uma Assembleia Constituinte no Peru.
– Devemos realizar um referendo no qual o povo possa levar adiante certas reformas e perguntar às pessoas se querem uma nova Constituição – declarou a meios locais peruanos, Lucía Alvites, socióloga e dirigente do partido Novo Peru.
Alvites destaca que o impeachment, aprovado na última quarta-feira por ampla maioria do Congresso, é uma estratégia da extrema direita para "quebrar a vontade popular e tirar Castillo do Executivo".
A dirigente do partido Mudança Democrática também defende uma constituinte. "As grandes mudanças que o país necessita implicam que se devolva ao povo o poder soberano de tomar decisões", disse Ruth Luque a meios locais.
Já a direita propõe "reformas" antes de que seja iniciado um novo processo eleitoral.
Apesar da pressão, a presidenta Dina Boluarte, que assumiu o poder na quarta após a destituição de Castillo, disse que não irá convocar outro processo eleitoral e pediu trégua à oposição para completar seu mandato até julho de 2026.
– Temos uma alta responsabilidade para assumir os desafios. Espero que encontremos consensos para levar o país adiante. A Constituição é a carta magna que todos os peruanos devem obedecer – declarou a presidenta, que também prometeu anunciar seu gabinete de ministros nos próximos dias.
Pedido de asilo
Depois de tentar dissolver o Congresso, mas não obter apoio para sustentar sua decisão, Castillo entregou-se às autoridades em Lima e foi detido. A justiça peruana determinou sua prisão preventiva até o dia 13 de dezembro e o transferiu para a prisão de segurança máxima do Departamento de Operações Especiais (DIROES) - mesmo lugar onde o ex-ditador Alberto Fujimori cumpre pena por violações de direitos humanos e corrupção.
A Corte Suprema de Instruçao Preparatória acusa Castillo de crime de rebelião e conspiração por tentar fechar o Congresso e sugere risco de fuga.
Com o abandono do seu ex-advogado, agora quem fará a defesa de Castillo será Aníbal Torres, que foi seu chefe do Conselho de Ministros entre fevereiro e novembro deste ano. O jurista sustenta que seu cliente não cometeu nenhum dos crimes pelos quais é acusado, portanto não há perigo de que ele tente sair do território peruano.
Peru
Segundo o Procurador-geral do Peru, Daniel Soria, o presidente deposto pode ser condenado a uma pena que varia de dez a 20 anos de prisão por sedição, abuso de autoridade e perturbação da tranquilidade pública.
Na madrugada de quinta-feira, Castillo solicitou asilo político na embaixada mexicana em Lima, alegando em carta que era vítima de perseguição política. O México confirmou o pedido e disse estar disposto a receber o ex-mandatário.
– Iniciaremos consultas com as autoridades peruanas – disse o ministro de Relações Exteriores, Marcelo Ebrard.
México
O México também abrigou Evo Morales e Alvaro García Linera após o golpe de 2019 na Bolívia. O ex-presidente boliviano se solidarizou com Castillo e pediu unidade em torno do governo de Dina Boluarte.
– A experiência do irmão Pedro Castillo deixa uma advertência aos movimentos populares antiimperialistas do mundo. Nunca devem confiar na direita, menos se é um Parlamento, porque conspira e divide até destruir governos do povo. Isso a história nos ensina – disse Morales.
Já Vladimir Cerrón, presidente do partido Peru Livre, ex-legenda de Castillo, diz que o ex-presidente foi traído após distanciar-se da esquerda.
– Fizeram Pedro Castillo acreditar que era fácil, prometeram partidos políticos novos desde que rompesse com Peru Livre, e lhe deixaram à mercê dos corruptos – defendeu Cerrón.