O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Marco Aurélio Mello, lançou um desafio a parlamentares: - Troco o que ganho, R$ 24,5 mil, pelo que ganha um deputado e um senador (R$ 12,8 mil). Vamos colocar no lápis as vantagens dos parlamentares. Se não forem três vezes maiores do que recebe um ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), deixo a cadeira que tenho no Judiciário - disse, após aula em faculdade de Direito de São Paulo.
A declaração foi uma crítica a deputados e senadores que querem congelar o salário dos ministros do STF até que as remunerações dos Três Poderes sejam equiparadas. Segundo Mello, seu ordenado bruto é de R$ 24,5 mil, o vencimento, porém, cai muito após os descontos: - Eu ganho R$ 24,5 mil, mas tenho um sócio, que é o próprio Estado. Aí, meu líquido fica em torno de R$ 17 mil - argumentou.
Líder do PSDB na Câmara, Antônio Carlos Pannunzio (SP) considerou o desafio bravata. Já o senador Jefferson Peres (PDT-AM) disse que Mello tem razão quando aponta a vantagem de parlamentares. E citou a verba de R$ 15 mil para despesas do cargo no Estado.
Marco Aurélio Mello também defendeu o fim do foro especial para quem ocupa cargos públicos. - Num regime democrático, há que prevalecer a isonomia e o tratamento igualitário dos cidadãos - afirmou. O privilégio permite que presidente, deputados, senadores e ministros, nas funções, sejam julgados e investigados apenas pelo STF.
Adiada discussão de reajuste
Depois de declarar que colocaria em breve o reajuste dos deputados em pauta e que, se possível, seria um dos primeiros projetos votados na Câmara, o presidente da Casa, Arlindo Chinaglia (PT-SP), recuou. - Esse assunto não vai ser discutido amanhã nesta terça-feira - disse. - Quero ouvir a opinião dos líderes de novo e a questão vai a Plenário, isso não é prioridade - completou, após reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Durante a campanha à presidência da Casa, Chinaglia defendeu o reajuste equivalente à correção da inflação, o que faria os salários passarem de R$ 12,8 mil para R$ 16,5 mil.
O recuo foi elogiado até por quem votou contra a candidatura do petista. - Enfim, um gesto de bom senso. Seria absolutamente negativo começar a legislatura dando continuidade a um tema que não é o mais importante - disse o líder do PSOL, Chico Alencar (PT). - O ideal seria adiar o assunto três anos e meio, no mínimo. Esse tema se esgotou em agosto - completou o líder do PSB, Márcio França (SP).