Em uma caravana por Estados nordestinos, encerrada na noite desta terça-feira, em São Luís, Lula falou aos seus admiradores. O líder petista concentra o ódio de parcela da sociedade brasileira, identificada com a ultradireita.
Por Redação, com RBA - de Brasília, Curitiba e São Luís
O juiz Sérgio Moro, titular da Operação Lava Jato em Primeira Instância, confirmou o depoimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a próxima quarta-feira, em Curitiba. O líder petista tem sido alvo de ações judiciais em série e, na noite passada, foi citado em processo encaminhado pela Procuradoria Geral da República (PGR) ao Supremo Tribunal Federal (STF), por organização criminosa. Ao seu lado, na ação, constam os ex-ministros Antonio Palocci Filho, Guido Mantega, Edinho Silva e Paulo Bernardo; a senadora Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT; e o ex-tesoureiro do partido João Vaccari Neto.
O empresário Marcelo, Odebrecht, na segunda-feira, também prestou depoimento, em sua delação premiada, e disse que Lula foi beneficiado com a compra, no valor de R$ 12 milhões, de um imóvel em São Paulo. Este seria destinado ao Instituto Lula, mas não foi usado. Mesmo sem uma escritura em seu nome, Lula foi condenado por Moro a nove anos e meio de cadeia, por supostamente ter recebido um apartamento tríplex, no Guarujá, litoral paulista. Fatos desta envergadura levaram o líder petista a buscar a proteção de seus eleitores.
Em uma caravana por Estados nordestinos, encerrada na noite desta terça-feira, em São Luís, Lula falou aos seus admiradores. Enviada especial da revista Rede Brasil Atual, a jornalista Cláudia Motta percebeu o quanto os brasileiros, trabalhadores, donas de casa, estudantes; o povo simples do Nordeste quer ver de volta ao cargo o ex-presidente.
Leia, adiante, os principais trechos da reportagem:
Quase três horas para chegar à Praça Pedro II, no centro histórico da capital. Metade do caminho de balsa, metade de ônibus. Assim Elza Rodrigues saiu da comunidade quilombola de Rio Grande, no município de Bequimão, para chegar ao ato de encerramento da Caravana Lula pelo Brasil, na noite desta terça-feira. Foram 20 dias e 4,3 mil quilômetros passando por mais de 50 municípios nos nove Estados do Nordeste. Dona Elza é mais um personagem dessa história que não poderia ser contada sem os milhares de rostos anônimos, principal componente em cada parada pelo caminho, em cada grande manifestação.
São os responsáveis por uma mistura especial de "cheiro de poeira com cheiro de esperança", como definiu Lula em seu discurso de despedida.
— Termino dizendo para vocês: queria que todo governante desse país fizesse uma caravana. Que tivessem coragem de conversar com o povo, abraçar pessoas com cheiro de poeira, cheiro de esperança e cheiro de sonho. Pessoas dizendo que estamos perdendo o que conquistamos. Eu diria: não percam a esperança. Quando não acreditarem em ninguém, entrem na política — disse.
Realização
Aos 65 anos, Elza estava feliz por estar ali e, mesmo sem saber, fazendo política.
— Nunca tinha visto uma coisa assim— dizia a mãe de quatro filhos, avó de 15 netos e uma bisneta. Ela conta que em Bequimão tinha "muita gente pobre".
— E no governo de Lula melhorou a qualidade de vida de muitas pessoas. Na associação que nós temos, arranjamos 49 casas nesse projeto. Colocamos o projeto no governo de Lula e recebemos as casas no governo de Dilma — explica a agricultora que ao lado de três dos seus filhos planta milho, mandioca, feijão e já quebrou muito coco babaçu: "Hoje não quebro mais, não."
Essa é a realização de dona Elza: ter sua casa e não quebrar mais coco. E foi à praça para comemorar. Se isso é pouco aos olhos de alguns, para ela é parte importante de sua satisfação com sua terra e sua cultura. As festas na comunidade têm forró de caixa e tambor de crioula, tudo que aprendeu com a avó e com a mãe, e ensina aos filhos e netos.
Lula é uma ideia
Dona Elza respondia à pergunta feita por Flavio Dino, do alto do palco, em frente à sede do governo estadual, o Palácio dos Leões.
— Quem construiu as riquezas de São Luís? Quem construiu a riqueza do Brasil? Os negros, índios, os trabalhadores, o povo mais pobre do nosso país. Todos nós sabemos que, estranhamente, nosso país desenvolveu um ódio aos mais pobres. Esse país é racista, preconceituoso e obscenamente desigual. Temos de lutar contra tudo isso — disse.
Era mais uma noite em que, longe dali, o Jornal Nacional dedicava longos minutos a uma denúncia apresentada contra Lula e Dilma pelo procurador-geral Rodrigo Janot, em mais um episódio de perseguição política por uso da Justiça e da mídia – enquanto o telejornal desprezava as provas materializadas em malas de dinheiro em apartamento de Geddel Vieira Lima.
Degrau social
E Lula voltava a pedir que ninguém se desesperasse.
— Ninguém pode perder a esperança. Se enganam eles se pensam: vamos tirar o Lula da jogada e está tudo resolvido. Se pensam que o problema sou eu, é bom tirar o cavalo da chuva porque já temos milhões e milhões de pessoas que pensam como o Lula — avisou.
Ainda segundo o líder petista, ele hoje representa uma ideia:
— A ideia de que o povo merece e pode viver bem. Nós aprendemos que não queremos mais morar na senzala, queremos morar na casa grande. Queremos subir o degrau social nesse país. Nosso milagre não está na capacidade do Lula, está na capacidade de vocês.
Agradecimentos
Lula aproveitou o ato de encerramento da caravana em São Luís para agradecer aos governadores e prefeitos que receberam a comitiva em seus estados, suas cidades. Também agradeceu ao MST, à CUT, à Contag, aos sindicatos locais, "pela dedicação extraordinária para que pudéssemos colher carinho e sugestões do povo".
O ex-presidente encerrou o último ato de sua viagem com uma saudação especial ao movimento social:
— Termino essa caravana muito grato ao movimento social, porque fizeram acontecer a caravana que mexeu com o coração do povo brasileiro, apesar de a grande imprensa não ter dado uma única notícia em todos esses dias.
Em entrevista aos jornalistas da mídia alternativa, Lula já havia criticado os jornais, revistas e emissoras de TV e rádio da mídia conservadora.
— Se a elite não sabe fazer, por favor, não se escondam atrás de mentiras. Disputem as eleições pra gente recuperar o Brasil para os brasileiros. Eles que se cuidem porque o povo brasileiro vai voltar a governar esse país — concluiu.