Rio de Janeiro, 12 de Setembro de 2025

Mercosul: Quilombo dos Palmares é reconhecido patrimônio cultural

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Sábado, 11 de Novembro de 2017 às 09:38, por: CdB

A região que acolhia o núcleo do quilombo, Serra da Barriga; em Alagoas, ganhou reconhecimento internacional. Neste sábado, foi oficializada a certificação da área

Por Redação, com ABr - de Brasília:

Em 20 de novembro é comemorado no Brasil o Dia da Consciência Negra. A data foi escolhida para lembrar a morte de Zumbi dos Palmares, uma das principais lideranças negras da história do país. O nome faz referência ao Quilombo dos Palmares, maior espaço de resistência de escravos durante mais de um século no período colonial (1597-1704).

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A região da Serra da Barriga, em Alagoas, acolhia o Quilombo dos Palmares, o mais conhecido da história brasileira

A região que acolhia o núcleo do quilombo, Serra da Barriga; em Alagoas, ganhou reconhecimento internacional. Neste sábado, foi oficializada a certificação da área como patrimônio cultural do Mercosul.

O título só foi conferido até agora a dois bens no país: a Ponte Internacional Barão de Mauá; ligação entre as cidades de Jaguarão, no Brasil, e Rio Branco, no Uruguai; e a região das Missões; que abrange cinco países (Brasil, Argentina, Paraguai; Uruguai e Bolívia).

A Serra da Barriga foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 1985. Em 2007, foi aberto o Parque Memorial Quilombo dos Palmares, próximo à cidade de União dos Palmares, a cerca de 80 quilômetros da capital do estado, Maceió.

O projeto envolveu a construção de instalações em referência a Palmares, como a casa de farinha (Onjó de farinha), casa do campo santo (Onjó Cruzambê ) e terreiro de ervas (Oxile das ervas). O espaço ainda é o único parque temático voltado à cultura negra no Brasil e recebe anualmente cerca de 8 mil visitantes.

Visibilidade

Para Marcelo Britto, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan); o título de patrimônio cultural do Mercosul significa um reconhecimento internacional importante e também pode estimular a visibilidade da área por brasileiros que ainda a desconhecem.

– Um aspecto importante é a dinamização econômica, uma vez que o bem cultural ganha uma visibilidade; para uma projeção de caráter nacional e internacional. Isso favorece iniciativas que tendem a promover o turismo cultural; a geração de empregos que podem ocorrer relacionadas a isso – afirma.

Referência histórica

O Quilombo dos Palmares surgiu no século 16. Residiam nele escravos fugidos das capitanias da Bahia e de Pernambuco. O local chegou a reunir até 30 mil pessoas no seu auge, no século XVII, e era organizado em pequenos povoados, chamados de mocambos. Os principais eram Cerca Real do Macaco, Subupira, Zumbi e Dandara. O maior deles chegou a ter 6 mil pessoas, quase a mesma população do Rio de Janeiro à época.

Esses mocambos constituíam uma espécie de república. As decisões políticas eram tomadas pela reunião da liderança de cada um deles em conjunto com o chefe supremo. Essa posição de comando foi ocupada por Acotirene, sucedida por Ganga Zumba e, depois, por Zumbi. No tocante às relações afetivas, Palmares era uma sociedade poliândrica; em que mulheres podem ter relação com diversos homens.

Segundo Zezito de Araújo, professor de história e supervisor de Diversidade da Secretaria de Educação do Estado de Alagoas; Palmares ainda é lembrado muito pela dimensão do conflito .Mas deveria ser conhecido por ter sido o primeiro grande movimento de resistência das Américas no período colonial e pela sua organização política.

“A Revolução Francesa é tida como o símbolo da liberdade, mas a luta de Zumbi aconteceu antes. Enquanto em Palmares tínhamos propriedade coletiva; produção para subsistência e para troca; na colônia tínhamos atividade agrícola para exportação e escravidão como base do trabalho. São sociedades opostas”, analisa.

Melhorias no espaço

Na opinião do presidente do Conselho de Promoção da Igualdade Racial de Alagoas, Elcias Pereira; o título de patrimônio cultural será uma oportunidade importante de qualificar o espaço no momento em que o parque memorial completa 10 anos. “Recebendo esse título pode haver a melhoria dos equipamentos. Nestes últimos 10 anos, os investimentos não foram feitos como deviam. O acesso precisa ser arrumado, pois durante boa parte do ano há problema para chegar em razão das chuvas”, aponta Pereira.

Segundo Carolina Nascimento, diretora de Proteção ao Patrimônio Afro-Brasileiro da Fundação Cultural Palmares, responsável pelo parque nacional, ajustes e melhorias no espaço serão feitas a partir de um conjunto de iniciativas que já começaram a ser debatidas em uma oficina realizada neste ano em Maceió.

Entre as ações previstas estão a instituir um comitê gestor da Serra da Barriga, analisar a capacidade de recebimento de pessoas, reassentar algumas famílias ainda resistentes na área, implantar unidades de conservação ambiental, elaborar um plano de conservação e criar um centro internacional de referência da cultura negra.

– Neste momento em que casos de racismo estão se acirrando, o reconhecimento deste bem cultural é uma forma de combater a discriminação racial e valorizarmos a cultura afro-brasileira – diz a diretora da fundação.

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