Em setembro de 2016 o TJ-SP concluiu que não há elementos suficientes para constatar quais crimes foram cometidos por cada um dos 74 agentes de segurança durante o massacre. Em setembro deste ano, o STJ não reconheceu a conclusão, e a defesa dos policiais garantiu que levará o caso ao STF.
Por Redação, com Brasil de Fato - de São Paulo
Neste sábado, o Massacre do Carandiru completa 29 anos e, até o momento, sem um condenado sequer pelas 111 mortes. O cenário, no entanto, pode mudar em breve, uma vez que o caso está prestes a ser levado ao Supremo Tribunal Federal (STF), depois que 5ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) não reconheceu a decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) de anular o julgamento realizado em 2014.
Em meio à impunidade, depois de 29 anos o caso ainda transcende o sistema prisional
Em setembro de 2016 o TJ-SP concluiu que não há elementos suficientes para constatar quais crimes foram cometidos por cada um dos 74 agentes de segurança durante o massacre. Em setembro deste ano, o STJ não reconheceu a conclusão, e a defesa dos policiais garantiu que levará o caso ao STF.
Em meio à impunidade, depois de 29 anos o caso ainda transcende o sistema prisional e oferece subsídios para um debate mais amplo sobre o genocídio reincidente provocado pelo Estado brasileiro contra as populações pobres.
– Eu olhei pela ventana e lá embaixo já tinham vários policiais atirando e, de fato, assassinando as pessoas – afirma Sidney Salles, sobrevivente do massacre, que narra a saga dos presos que habitavam o Pavilhão 9 do Carandiru naquele 2 de outubro.
– Eu lembro mais do dia 1 de outubro do que o dia 2 de outubro. Estávamos organizados, na nossa rotina, como tudo deveria continuar – também lembra Kric Cruz, rapper e sobrevivente do Massacre do Carandiru. “Foi tudo muito rápido, eu estava no pavilhão ao lado, o 8”, recorda.
A impunidade
Para Cruz, a impunidade é a ferida que segue aberta após 29 anos. “Os massacres continuam, o (Wilson) Witzel , o (João) Dória e o (Jair) Bolsonaro estão aí para mostrar que a prática do extermínio continua viva”, explica o rapper.
– Neste país, há um projeto de genocídio da população negra, que se expressa principalmente através do assassinato da juventude negra – afirmou Milton Barbosa, Fundador do Movimeno Negro Unificado (MNU).
Barbosa, do MNU, recordou que o episódio não pode ser explicado sem o entendimento de que se trata de “uma política do Estado brasileiro”.
– Foi uma ação de barbárie que faz parte do projeto de genocídio. Naquele período, já questionávamos o número, foram 243 pessoas e não 111. Temos que nos reunir aqui em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Porto Alegre e muitos outros lugares. Há um projeto de genocídio em curso – afirma Barbosa.