“Diante da situação, não foi um resultado ruim. Isso não significa que o governo tenha força para votações futuras”, disse Maia.
Por Redação - de Brasília
Presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) não fez questão de esconder, por um instante sequer, sua condição de principal avalista do governo do presidente de facto, Michel Temer. Aos jornalistas de um dos diários conservadores paulistanos, em entrevista publicada nesta sexta-feira, Maia diz, com todas as letras, que “o governo não tem mais votos para aprovar projetos importantes na Casa”.
Segundo afirmou, o Planalto ficou "fragilizado" e "desgastado" depois de barrar as denúncias contra Temer. “Para Maia, o presidente precisa melhorar a relação com o Congresso e calar auxiliares que ‘falam demais’.
— O Jaburu virou um lugar aonde ninguém quer ir — alfineta.
Leia, adiante, os principais trechos da entrevista:
— Temer barrou a segunda denúncia com 251 votos, o que representa menos da metade dos deputados. O placar o surpreendeu?
— Não. O governo estimulou os deputados a viajar para não se expor (votando a favor de Temer). Diante da situação, não foi um resultado ruim. Isso não significa que o governo tenha força para votações futuras. Daqui para a frente, qualquer matéria polêmica vai precisar de uma reorganização da base.
— Como fica a imagem da Câmara depois de salvar um presidente tão impopular?
— A Câmara saiu machucada, sem dúvida. Quem não achar isso está enxergando pouco. O deputado é cobrado nas bases, nas redes sociais.
A gente não pode esconder que a sociedade pediu o afastamento, e a Câmara entendeu que não valeria a pena. A maioria decidiu de forma democrática. A questão é conseguir explicar isso ao eleitor.
A denúncia não morreu, o presidente voltará a ser investigado quando deixar o governo. Mas os deputados acharam que o peso de afastá-lo agora seria muito grande.
— Muitos deputados também são investigados. Eles blindaram Temer para se proteger?
— Mesmo que seja investigado, o deputado vota olhando o interesse do seu eleitor. Se ele entendesse que havia uma pressão insuportável, teria votado contra o presidente.
Não há esse espírito coletivo [de autoproteção]. O deputado vê o que pode tornar insustentável a sua reeleição.
— A imprensa registrou a ampla distribuição de cargos, verbas e favores nas últimas semanas. Houve compra de votos?
— Acho que falar de compra de votos é muito forte. O julgamento é político, né? O governo faz a articulação política com seus deputados de forma permanente.
Algumas sinalizações foram equivocadas. Tratar de trabalho escravo por portaria é até inconstitucional. Não deveria ter sido assim. Estava na cara que a portaria ia cair na Justiça. Nada disso pode ser feito de modo unilateral. São temas que envolvem a sociedade e a imagem do país.
— O governo ainda tem maioria para aprovar seus projetos?
— Na primeira denúncia, eu já achava que era preciso reorganizar a base. Agora o governo tem que ter paciência, porque ele não tem votos para aprovar matérias importantes. Pacificar a base é mais inteligente que buscar culpados. E tem que tomar cuidado para não buscar o culpado errado.
A denúncia existe, frágil ou não. Mas tem erros cometidos pelo presidente na conversa com o Joesley [Batista]. Agora que o assunto está encerrado, é importante que o presidente possa reorganizar minimamente a base para ter condições de votar projetos que exigem quorum qualificado.
— O presidente (de facto) terá que fazer uma reforma ministerial?
Isso cabe ao presidente (de facto) decidir. Da forma como a base está colocada, o governo vai ter dificuldades em matérias polêmicas. Se ele vai precisar apenas de diálogo com os deputados ou se vai precisar fazer reforma, é uma questão que não cabe a mim discutir.
— A reforma da Previdência ainda pode sair do papel?
— Acho que é muito difícil. A gente tem que focar nos dois pontos mais compreensíveis: idade mínima e fim dos privilégios dos que ganham mais.
Se o governo não tem dinheiro para investimento, é porque a Previdência vem engolindo todos os recursos disponíveis. Em 1998, ela custava 3,4% do PIB. Hoje custa 13%. Como é que isso se sustenta?
— O que seria descartado nessa versão enxuta da reforma?
— A aposentadoria rural, em parte. Também o Benefício de prestação continuada (BPC, pago a idosos e deficientes). O resultado financeiro é pequeno e o desgaste é enorme. A gente tem que considerar a situação de fragilidade e desgaste do governo. Não adianta querer fazer tudo.
Rodrigo Felinto Ibarra Epitácio Maia, de 47 anos, nasceu no Chile durante o exílio do pai, o ex-prefeito do Rio Cesar Maia (DEM-RJ). Ele foi eleito deputado federal pela primeira vez em 1999. Está no quinto mandato. Chegou à casa filiado ao PFL, foi para o PTB e voltou ao PFL (atual DEM). Preside a Câmara desde julho de 2016.