Com a caserna como aliada, Maia tem apoio de ex-comunista para assumir mandato-tampão mais longo.
Por Redação, com RBA - de Brasília
Sem levantar muita poeira, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) — aliado à ultradireita — tem costurado, com linha cirúrgica, um acordo com partidos que integram a base do presidente de facto, Michel Temer, e alguns setores da centro-esquerda. Mas seu principal trunfo revelou-se, não por acaso, no discurso do general Hamilton Mourão, em um encontro de maçons brasilienses.
Sem o mínimo apoio popular, como revelam as últimas pesquisas junto aos eleitores brasileiros, Temer está preso ao Palácio do Planalto por um fio. E os parlamentares que o seguram já começaram a perceber que as denúncias contra o núcleo do PMDB pesam mais do que se imagina. Wellington Moreira Franco, da Secretaria da Presidência da República, e Eliseu Padilha, chefe da Casa Civil, integram o centro do alvo, ao lado do “chefe do quadrilhão”, conforme define a Procuradoria-Geral da República (PGR) na ação que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF).
O quadro se agravou após a decisão do STF, por 10 votos a 1, de enviar à Câmara dos Deputados a nova denúncia. A principal questão desse final de ano é se o plenário da Câmara vai autorizar a abertura do processo contra Temer. Para o cientista político Ricardo Caldas, professor da Universidade de Brasília (UnB), há hoje em Brasília duas correntes distintas.
Transição
Uma delas, majoritária, aposta que a votação será ainda mais fácil para Temer do que a anterior. Em Agosto último, os deputados rejeitaram a denúncia por 263 votos a 227. Para essa corrente, os questionamentos sobre a credibilidade das delações envolvendo a JBS tornaram a denúncia mais frágil.
— Pessoalmente, estou na corrente minoritária. Não aposto em questão de provas. A questão é política. A base de Temer está encolhendo e ele está em rota de colisão com Rodrigo Maia — disse Caldas ao jornalista Eduardo Maretti, do site Rede Brasil Atual (RBA). Para ele, o presidente da Câmara é “a pessoa mais importante nesse momento a acompanhar e é a chave do processo”.
Nos bastidores, Rodrigo Maia (DEM-RJ) estaria sendo incentivado por atores políticos importantes e influentes, de dentro e de fora do governo, no sentido de que ele mesmo deveria ser o presidente e, portanto, estar no comando da atual transição do país.
— Nessa segunda visão, à qual eu me filio, a gente já tem um clima de conspiração dentro do próprio governo. Se essa visão minoritária prevalecer, Maia vai começar a minar o presidente Temer. A primeira percepção disso se daria na votação em que se decide a questão — avalia Caldas.
Revolta
Segundo o professor, dependendo de como a relatoria e a votação se organizarem, e como o DEM vai se posicionar, a ameaça a Temer é muito maior do que ele mesmo supõe.
Na semana passada, houve um notório recrudescimento na agressividade de Rodrigo Maia em direção ao Palácio do Planalto. O motivo, mais uma vez, foi a disputa por parlamentares que devem desembarcar do PSB e que Temer tem se esforçado para levar ao PMDB sem nenhuma discrição. Como resposta, o presidente da Câmara não mediu palavras.
— Se é assim que eles querem tratar um aliado, eu não sei o que é adversário. Quero que isso fique registrado, para que depois, quando a bancada do Democratas, em alguma votação, tenha uma posição divergente da que o governo espera, que ele entenda que há uma revolta grande na nossa bancada —disparou Maia.
Muita mentira
E avisou:
— Não virou rebelião ainda, mas é uma revolta muito grande.
Caldas recomenda que se confirme “se a briga dele (Maia) com Temer é verdadeira ou é teatro”.
— Mas essa é a única briga que importa nesse momento em Brasília. Cabe a Maia não só liderar o partido, porque ele virou de fato o líder do DEM, mas também aceitar ou não um possível pedido de impeachment contra Temer. Os pedidos estão todos na mão dele, e ele aceita quando quiser. É um xadrez, e qualquer pessoa que disser que a votação está garantida para um lado ou outro está mentindo — acrescentou.
Tucanos
Mas, fora Maia, principal peça no tabuleiro hoje, há ainda outros fatores que podem ser decisivos. Um deles é o PSDB. Totalmente dividido, os caciques permanecem a favor de manter o apoio a Temer e a base segue “em plena rebelião na Câmara”, segundo Caldas.
Entre os deputados tucanos, a tendência é contra Temer.
— Se juntar essa ala do PSDB, mais o DEM, vai ficar difícil o PMDB sozinho sustentar o presidente — diz o analista.
Para ele, a divisão do PSDB não é um teatro em que as duas posições se sustentam estrategicamente.
— Os grupos no PSDB estão muito divididos e os interesses muito à flor da pele — afirmou.
Ninho rachado
Os grupos mais antigos, como do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que quer ser presidente, estão pensando em 2018. Não têm interesse em brigar com o PMDB, do qual precisarão como aliado. Mas líderes mais jovens, como o prefeito de São Paulo, João Doria, e deputados que o acompanham, pensam que é momento de “uma faxina”.
— Para esses, o apoio a Temer está prejudicando inclusive o Alckmin, porque já surgiram denúncias contra o governador e vão surgir outras — constata.
Mas Alckmin está tentando segurar essa ala por sua candidatura à Presidência; enquanto o senador José Serra (SP) se mantém pela manutenção da aliança. O senador Tasso Jereissati (CE) é independente e contra. Mas é questionado por suas posições baseadas na opinião pessoal.
— Isso provoca ressentimentos. Tanto no pessoal do Aécio, que perdeu espaço, quanto do Alckmin, que não se sente representado — observa Caldas.
Meio militar
A oposição precisa de 342 votos, número que sabe não possuir.
— Ela só teria esses votos se se aliasse com o racha da base governista. Leia-se: PSDB, DEM e até mesmo PMDB, no caso, alguns grupinhos insatisfeitos com a condução do partido, como o deputado Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE); entre outros menos influentes, minoritários no partido — aponta o cientista político.
Soma-se ao cenário a última reunião de Maia com o ex-comunista Aldo Rebelo. Este assinará a ficha do Partido Socialista Brasileiro (PSB), nesta terça-feira. Rebelo tem trânsito fácil pelas Forças Armadas e, recentemente, lançou um manifesto pela unidade nacional, que repercutiu no meio militar.