Maia garantiu, no entanto, que o desconforto na bancada não irá contaminar a votação da segunda denúncia encaminhada pela PGR contra Temer.
Por Redação - de Brasília
O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou na noite passada que há uma “grande revolta” na bancada de seu partido. Ele teria identificado as “digitais” do governo no arrebanhamento de parlamentares insatisfeitos do PSB para o PMDB.
O mal-estar ocorre em um momento crítico para o Planalto. Em face de uma denúncia por obstrução de Justiça e formação de quadrilha, o presidente de facto, Michel Temer, precisa dos aliados para seguir no cargo. A denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) tem o poder de derrubá-lo do cargo, caso aprovada na Câmara.
Julgamento
A denúncia ainda não chegou à Câmara, mas convém ao governo manter uma boa relação — e afastar disputas — com os deputados. Eles serão eles os responsáveis por autorizar ou impedir o Supremo Tribunal Federal (STF) a prosseguir com a peça acusatória.
— Quero que a gente deixe registrado para que depois, quando a bancada do Democratas quiser em alguma votação (ter) uma posição divergente.... o governo entenda que há uma revolta muito grande dentro da nossa bancada. Não virou rebelião ainda, mas é uma revolta muito grande — disse o presidente da Câmara a jornalistas.
Maia garantiu, no entanto, que o desconforto na bancada não irá contaminar a votação da segunda denúncia encaminhada pela PGR contra Temer. Mais cedo na quarta-feira, a maioria do STF se manifestou pelo envio imediato à Câmara da denúncia contra Temer. O julgamento do pedido da defesa para barrar essa remessa foi concluído nesta quinta, com placar elástico de nove votos a favor e apenas um contrário, do ministro Gilmar Mendes.
— De jeito nenhum. A gente não vai misturar uma coisa com a outra... cada deputado vai votar com a sua consciência — disse Maia. Ele foi questionado sobre a possibilidade de o mal-estar afetar a votação da acusação contra o presidente de facto.
Padilha e Moreira
O parlamentar fluminense disse ter recebido garantias tanto do presidente nacional do PMDB, senador Romero Jucá (RR), quanto do próprio Temer que não havia interesse da sigla em parlamentares dissidentes do PSB. Mas não é isso a que se tem sido percebido.
— Nas últimas semanas o que a gente tem visto é contrário. Inclusive com uma participação do ministro (da Secretaria-Geral da Presidência) Moreira Franco e do ministro (da Casa Civil) Eliseu Padilha na filiação (ao PMDB) do senador Fernando Coelho — disse Maia, referindo-se ao embarque do ex-socialista no partido de Temer.
Segundo Maia, há sérias dúvidas quanto ao comportamento dos peemedebistas.
— Queremos saber qual a verdadeira posição do PMDB e do governo em relação ao Democratas. Tem parecido um tratamento de adversário, eu espero que não vire uma relação entre inimigos — afirmou.
Tempo de TV
Maia argumentou, ainda, que seu partido tem sido um dos que mais votou com o governo, inclusive nas “agendas difíceis” que têm sido encaminhadas pelo Executivo.
Mesmo antes de o PSB se declarar formalmente como oposição, a bancada do partido na Câmara já se mostrava rachada. Altas lideranças do partido, aliás, garantem que o ministério concedido à sigla — Minas e Energia — foi negociado pela parcela rebelde de deputados à revelia da direção da sigla.
A divisão ficou mais evidente na votação da primeira denúncia contra Temer, rejeitada pela Câmara. Desde então, dissidentes da legenda têm sido procurados por outros partidos; entre eles DEM e PMDB, de olho na ampliação de sua participação na Câmara. Uma proporção que, para além dos números, afeta o acesso a tempo de televisão e rádio. Principalmente, às vésperas das eleições de 2018. Toca, ainda, na obtenção de recursos públicos destinados aos partidos.