Melhor do que ninguém, Lula sabe e as pesquisas apontam que somente a sua candidatura a presidente tem condições de representar essa saída democrática almejada pela maioria da sociedade brasileira.
Por Val Carvalho - do Rio de Janeiro
Quando Lula disse no seu discurso em Belo Horizonte que “estava perdoando os golpistas”, ele não estava aceitando o golpe, mas buscando estreitar a base de apoio social e político do comando golpista. Como Fidel Castro, um gigante da tática, Lula olha com profundidade o momento político e passa um recado de grande impacto para aqueles golpistas arrependidos, que caíram no conto do “se tirar Dilma, vai melhorar”.
Ele percebe ainda que a desgraça que Temer está fazendo com a economia, com o povo e com o país está produzindo grande insatisfação em todas as classes e segmentos sociais e que isso pode ser unificado num amplo movimento nacional pela volta do Estado democrático de direito.
Temer e o golpe
E, melhor do que ninguém, Lula sabe e as pesquisas apontam que somente a sua candidatura a presidente tem condições de representar essa saída democrática almejada pela maioria da sociedade brasileira.
Lula percebe a crescente mobilização popular produzida por suas caravanas e tem a certeza de que ela se repetirá como bola de neve por todo o país, criando a força de gravidade necessária para impulsionar essa ampla e diversificada frente democrática contra Temer e o golpe.
A inegável força popular emergida das Caravanas de Lula age como um sol do Estado democrático de direito, atraindo planetas que foram seduzidos pelo lado sombrio da Força. É isso o que significa “saída democrática” do atoleiro golpista.
Nossa culpa
Como seria de se esperar, esse caminho é feroz e desesperadamente atacado pelos golpistas e sua grande mídia, que não se cansam de inventar mentiras contra Lula e dizer que as caravanas são um fracasso e, no entanto, evitam mostrá-las.
Mas essa tática de Lula e do PT não é atacada somente pelos golpistas, mas também pelos setores exclusivistas das esquerdas. Os primeiros, para não perderem o poder ilegítimo que compraram com o impeachment ilegal da presidenta Dilma. Os segundos, porque não aceitam alianças táticas e sonham conquistar sozinhos, a democracia.
Se não é possível, como nunca foi nem será, preferem continuar na oposição, como guardiães da chama sagrada de seu exclusivismo ideológico de classe média. Contudo, para o povo o que importa mesmo é sair do sufoco em que entrou, enganado que foi pela mídia e desorganizado como que estava, por nossa própria culpa.
Luta de classes
Na nossa retomada da luta democrática, e para podermos ir muito além da simples volta do Estado democrático de direito, o PT e as esquerdas precisam sempre considerar dois pontos:
1) as massas só se tornam ativas quando lutam por suas necessidades materiais e somente dessa forma e com essa medida é que elas entendem os significados de democracia e socialismo.
2) Temos de saber manter a nossa independência ideológica em qualquer tipo de aliança que sejamos obrigados, pela conjuntura, a fazer. Sozinhos, não somos independentes, mas apenas isolados. O caminho da luta de classe não é um desfile pelo tapete vermelho.
Val Carvalho é articulista do Correio do Brasil.