A editora Geração Editorial venceu na Justiça e relança o livro "Nos bastidores do Reino". Esse livro do ex-pastor Mário Justino, que revela segredos da Igreja Universal do Reino de Deus, teve sua primeira edição apreendida em 1995 e ficou dois anos proibido de circular.
Qual era o temor do ”bispo” Edir Macedo e seus seguidores? “Eles eram revelados em toda a sua miserável humanidade”, diz Emediato. “Pessoas comuns, cruéis, gananciosas, vendendo ilusões principalmente para pobres e se divertindo, nos bastidores, com a ingenuidade das pessoas que estavam enganando. Mas eles venceram, naquela época, e continuam vencendo. Em 25 anos o império cresceu. A “Igreja” cresceu não só do ponto de vista do negócio, mas também criou braços no Congresso, na economia, nos meios de comunicação. Um verdadeiro polvo.”
O livro tinha chegado à editora encaminhado por Marcelo Rubens Paiva, acompanhado de um prefácio entusiasmado. “Ninguém será o mesmo depois de conhecer os detalhes da vida de Mário Justino, mas vale a pena correr o risco”, avisou o autor de Feliz ano velho.
Mais que um simples livro de “denúncias”, Nos bastidores do Reino é um profundo mergulho nos abismos humanos. Inocente, cheio de fé e boa vontade, aos 15 anos o autor trocou os estudos e a casa dos pais pela Universal. Negro, inteligente, casado, dois filhos, ele conquistou os chefes da igreja com sua facilidade de expressão e os fiéis com a Bíblia na mão. Transformou-se num grande motor de arrecadação.
Conheceu a opulência, levou vida de rico – mas logo percebeu a ilusão. Não eram a fé e o amor cristão que moviam a “igreja”, que “nada mais era do que uma empresa com fins lucrativos”. E abre o jogo: “Sexo, dinheiro e drogas se confundem, no mesmo púlpito, com orações e salmos de Davi”.
Com suspeita de ter o vírus da aids, Mário Justino sentiu a dor do abandono: Macedo não o amparou. A família foi dilacerada. Desceu ao inferno na Terra. Viveu nas ruas de Nova York, ao lado de mendigos e marginalizados – um doente e drogado condenado à morte. Com desejos de vingança, comprou uma arma e pensou em matar Edir Macedo. Teve-o na mira, mas não apertou o gatilho.
“Tinha a oportunidade de estourar-lhe os miolos, mas por alguma razão hesitava em fazê-lo”, ele relembra.
O livro teve grande repercussão logo depois de lançado, com notícias sobre suas revelações no Brasil e no exterior. Uma edição foi lançada em Portugal e circulou também na África, onde a Universal estava presente. “A descrição esmiuçada de seu calvário pessoal, com os devidos nomes aos bois, é prova suficiente da sinceridade do autor”, escreveu Barbara Gancia na Folha de S. Paulo. “Em qualquer país sério, essa obra serviria, no mínimo, como estopim para algum tipo de investigação pública”, completou.
“Quando escrevi Nos Bastidores do Reino, em um período de dois meses, em 1993, aos 28 anos, havia em mim certa urgência de contar a história”, diz o autor em nota na reedição do livro. “Com o resultado de um exame de laboratório nas mãos, eu achava que meus dias haviam sido abreviados e que não chegaria aos 30 anos de idade. Pensando assim, eu corria contra o tempo para tentar repor a minha verdade”, acrescenta. Ele completa: “E dessa forma nasceu este livro: como um grito urgente da alma — um desnudamento que, fosse hoje, aos 55 anos, sem o mesmo ímpeto da juventude, talvez não tivesse o ânimo de fazê-lo”.
Livro revela os pecados da Igreja Universal
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Segunda, 24 de Maio de 2021 às 12:19, por: CdB