Os policiais militares acusados são Fabrício Emmanuel Eleutério e Thiago Barbosa Henklain. Segundo o Ministério Público, eles teriam feito os disparos que mataram 17 pessoas
Por Redação, com ABr - de São Paulo:
O julgamento dos policiais militares e do guarda civil acusados de serem responsáveis por uma das maiores chacinas no Estado de São Paulo, em 2015, continuaram nesta quinta-feira, com a fase de debates do Ministério Público e dos advogados de defesa dos réus.
Cada um deles teve três horas para falar e tentar convencer os jurados sobre a condenação ou inocência dos réus. Depois disso, já nesta sexta-feira, haverá espaço para as réplicas e tréplicas, com duas horas de duração cada uma.
Ainda na sexta-feira, o Conselho de Sentença, formado por sete jurados, se reúne para discutir o destino dos réus. O julgamento ocorre no Fórum de Osasco, na Grande São Paulo.
Os policiais militares acusados são Fabrício Emmanuel Eleutério e Thiago Barbosa Henklain. Segundo o Ministério Público, eles teriam feito os disparos que mataram 17 pessoas, deixando outras sete feridas nas cidades de Osasco e Barueri, no dia 13 de agosto de 2015.
Os PMs vão responder pelas 17 mortes e pelas sete tentativas de homicídio. Eles estão presos desde o início das investigações; assim como o guarda civil Sérgio Manhanhã.
Duas horas
Os assassinatos aconteceram em um intervalo de aproximadamente duas horas. Eleutério e o policial Thiago Barbosa Henklain respondem por todas as mortes; enquanto o guarda civil Sérgio Manhanhã, que teria atuado para desviar viaturas dos locais onde os crimes aconteceram, foi denunciado por 11 mortes. Um quarto acusado recorreu da sentença de pronúncia e seu julgamento ainda não tem data definida.
Os assassinatos teriam ocorrido, segundo a acusação, como forma de vingança pelas mortes do policial militar Admilson Pereira de Oliveira; baleado ao reagir a um assalto a um posto de gasolina onde fazia “bico” como segurança; e do guarda civil de Barueri Jeferson Luiz Rodrigues da Silva, morto também após reagir a um assalto.
Testemunhas
Na quarta-feira, os três réus foram interrogados pela juíza Élia Kinosita Bulman e alegaram inocência. Também foram ouvidas, antes deles, oito testemunhas de defesa, duas delas ainda pela manhã, de forma protegida. No total, 21 pessoas foram ouvidas como testemunhas desde segunda-feira; quando o julgamento teve início: nove delas de defesa.
Durante os depoimentos das testemunhas de defesa ocorridos na quarta-feira; os advogados dos réus pediram para que as testemunhas olhassem para os jurados para falar. Uma delas, inclusive, é um policial militar que ficou preso no Presídio Militar Romão Gomes acusado de ter participado da mesma chacina.
A juíza foi informada sobre o desconforto dos jurados serem encarados pelas testemunhas e; na terceira vez que o advogado pediu para que isso ocorresse, foi repreendido pela juíza.
Réus
Na saída do fórum, após o interrogatório dos réus, o promotor Marcelo Alexandre de Oliveira e o advogado do guarda civil; Abelardo Julio da Rocha, falaram sobre o constrangimento dos jurados por serem encarados pelas testemunhas de defesa.
– Quando o advogado pediu a um sargento, que chegou a ser preso por este processo; para olhar para os jurados, vários deles abaixaram a cabeça. A informação que tive é que isso denotou um certo temor; e isso evidentemente nos traz um certo receio de que o resultado seja alterado ou influenciado por este fato – disse Oliveira.
O advogado de defesa
O advogado de defesa do guarda civil, por sua vez, disse que sua intenção, ao pedir que algumas das testemunhas olhassem para os jurados; era para que eles vissem a expressão no rosto da testemunha. “A insistência da defesa para que ele olhe para os jurados é para que eles analisem a expressão facial da testemunha. Nós, seres humanos, temos necessidade de avaliar também a expressão facial. Isso ajuda muito”, contou Rocha.
Para o advogado, a estratégia utilizada pela defesa, de fazer com que as testemunhas olhassem para os sete jurados, não era para amedrontá-las. “Imagino que a repercussão do caso acabou gerando; nas pessoas que compõem o Conselho de Sentença; um certo sentimento de insegurança que não se justifica.
Complexidade
Mas que nós temos que respeitar. Mas é a complexidade do caso. Lembrem-se que estamos aqui julgando a maior chacina das últimas décadas ocorrida em São Paulo. Isso não é qualquer coisa. Então, é natural que alguém no Conselho de Sentença se sinta intimidado”, explicou.
O promotor também comentou sobre o fato dele ter praticamente entregado; durante uma pergunta ao réu Henklain; quem seria a testemunha protegida que disse tê-lo visto discutindo com a esposa; porque ela teria o reconhecido como um dos assassinos por imagens na TV. “Acho que nem todos concluíram isso (quem era a testemunha). Eu tinha de perguntar isso”, falou.
Fase de debates
O promotor disse que no debate nesta quinta-feira, durante o julgamento; tentou provar aos jurados que eles não precisam temer condenar os policiais pelos crimes.
– Vou tentar fazê-los ver a responsabilidade que recai sobre eles em termos até de dever cívico porque a impunidade é causa dessas chacinas que; infelizmente, ocorrem com frequência nessa região. Vou tentar fazê-los compreender que é muito difícil, e eu nunca vi na minha vida, que condenados persigam os juízes ou jurados que reconhecem culpas – disse ele.