Rio de Janeiro, 16 de Setembro de 2025

Japonês chama mulher de 'máquina de parir' e gera indignação

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Sexta, 02 de Fevereiro de 2007 às 10:12, por: CdB

O cidadão conseguiu irritar até a mulher dele. Ministro japonês da Saúde, Hakuo Yanagisawa chamou as mulheres de "máquinas de parir" e deixou indignados muitos japoneses que já romperam com os tradicionais estereótipos machistas, confirmando uma impressão de que os líderes japoneses estão em descompasso com sua época. A gafe, que coincide com uma queda na popularidade do primeiro-ministro Shinzo Abe, levou os partidos de oposição a pedirem a demissão de Yanagisawa e criou mais uma dor-de-cabeça para o grupo governista, a poucos meses da eleição de julho para o Senado.

- Já que o número de máquinas e mecanismos de parir é fixo, tudo o que podemos fazer é pedir a elas que façam o seu melhor desempenho por cabeça - disse o ministro no sábado, durante uma reunião partidária.

Ele se corrigiu quase imediatamente, mas a gafe já estava feita.

- Até minha mulher me deu bronca - afirmou ele dias depois a jornalistas.

Críticos dizem que a brincadeira revela arraigados preconceitos que permeiam os ambientes japoneses do poder, amplamente dominados pelos homens.

- O que irrita as mulheres nos comentários de Yanagisawa são os indícios de que essa é a visão dos homens que detêm o poder - disse Sumiko Iwao, professora emérita da Universidade Keio, de Tóquio, que até meses atrás presidia uma comissão consultiva do governo sobre igualdade de gênero.

Não é a primeira manifestação machista vinda de políticos conservadores do Partido Liberal Democrático. Em 2006, um projeto que permitia a ascensão de mulheres ao trono foi arquivado devido ao nascimento de um herdeiro homem, apesar das pesquisas indicarem que a população gostaria de ter uma imperatriz comandando o país. As japonesas ainda estão muito atrás das mulheres de outros países desenvolvidos na política e no acesso ao poder. Mas, em um país com a taxa de natalidade baixíssima, as empresas ampliam seus esforços para aproveitar melhor as capacidades de trabalhadoras e gerentes mulheres.

- As mulheres se tornaram iguais (aos homens) e muitas estão trabalhando, então o que ele estava pensando ao descrevê-las desse jeito? Como mulher, acho ofensivo ser tratada como objeto - disse Keiko Otsuki, 26 anos, enquanto se dirigia, nesta sexta-feira, ao trabalho.

As estimativas preliminares mostram que a taxa de fertilidade (o número de filhos que uma mulher tem em média ao longo da vida) pode ter se recuperado no ano passado, após atingir o recorde negativo de 1,26 filho por mulher em 2005. O problema é que, neste ano, a perspectiva é de que a natalidade volte a cair. Por causa desse fenômeno, a população japonesa já está encolhendo, o que cria preocupações com o crescimento econômico. Apenas dois dias depois do comentário de Yanagisawa, Abe criou uma comissão para combater o problema do declínio populacional.

O caso poderá afetar a eleição de domingo na Província de Aichi (centro) e na cidade de Kitakyushu (sul). Os resultados podem condicionar a permanência ou demissão de Yanagisawa.

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