O Datafolha apontava vitória de Marília Arraes (PT) em Recife (PE), mas a vitória foi de João Campos (PSB). Para o Ibope, Manuela D’Ávila (PCdoB) venceria Sebastião Melo (DEM) em Porto Alegre (RS), mas a candidata da esquerda saiu derrotada.
Por Redação, com RBA - de São Paulo
Em 2020, os institutos de pesquisa erraram nos prognósticos para diversas capitais e chamaram a atenção durante as eleições. A resposta está, para especialistas consultados pelo Brasil de Fato, no método escolhido pelas empresas para fazer os levantamentos durante a pandemia: a entrevista por telefone.
O cientista político Rudá Ricci explica que, neste ano, houve uma profusão de pesquisas por telefone e muitos institutos não tinham como checar os dados.
— Em cerca de 20% das pesquisas, você volta com outro técnico para checar se o entrevistado foi mesmo questionado e se a sequência de respostas bate. Dependendo do índice de erros, você cancela todo o lote de pesquisas do pesquisador que errou. Com a profusão de pesquisas por telefone e sem a checagem, eu não tenho como confiar mais nas pesquisas — sentencia.
Cenário
O Datafolha apontava vitória de Marília Arraes (PT) em Recife (PE), mas a vitória foi de João Campos (PSB). Para o Ibope, Manuela D’Ávila (PCdoB) venceria Sebastião Melo (DEM) em Porto Alegre (RS), mas a candidata da esquerda saiu derrotada.
Em Fortaleza (CE), o Ibope cravava uma vitória de Sarto (PDT) contra o Capitão Wagner (PSL), com 20% de vantagem. Porém, quando as urnas foram fechadas, o pedetista venceu apertado, por 51% a 49%.
O cenário foi oposto em São Paulo, onde o Datafolha previa uma vitória apertada de Bruno Covas (PSDB) sobre Guilherme Boulos (PSOL). O triunfo do tucano, no entanto, foi mais tranquilo, por 59% a 41%.
O analista político Marcos Verlaine, do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), comentou a falta de precisão nos levantamentos. Segundo o cientista político, o Datafolha é muito questionado entre os pesquisadores da área social, porque a empresa sempre faz a chamada pesquisa em fluxo ao invés da domiciliar.
Auxílio emergencial
Verlaine explica que esse tipo de levantamento, como diz o nome, consiste em colocar os pesquisadores em locais com muito fluxo de gente, como, por exemplo, na entrada de metrô.
— O Datafolha é o único instituto de pesquisa que dá um índice de popularidade do Bolsonaro muito acima da média dos demais institutos. Nunca houve uma queda para menos de 32%, enquanto em outras pesquisas ele teria caído para 26%, um pouco antes da ajuda do auxílio emergencial. Há uma desconfiança muito grande com o Datafolha — explica o cientista político.
Segundo Verlaine, “essa pesquisa do Datafolha que dá um relativo percentual positivo de aprovação ao Bolsonaro, tem muito que ver com a questão do auxílio emergencial, que já caiu".
— Eu acredito que, em fevereiro, quando as coisas devem estar mais claras, em relação ao debate político e da vacina, esse quadro estará mais definido e a aprovação do Bolsonaro estará bem menor. Sem a renovação do auxílio, Bolsonaro perderá apoio da população — conclui.