Rio de Janeiro, 11 de Setembro de 2025

Índios Kaiowá querem sepultar índia em terra reivindicada

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Quarta, 10 de Janeiro de 2007 às 13:36, por: CdB

O sepultamento da índia guarani-kaiowá Kurutê Lopes, 70 anos, assassinada na noite de segunda-feira por pistoleiros, pode acontecer nesta quarta-feira, próprio ao local onde ocorreu o crime, na Fazenda Madama, localizada entre os municípios de Amambai e Coronel Sapucaia, no sudoeste do Mato Grosso do Sul.

A decisão foi tomada pela comunidade indígena da região, que, para realizar o velório, aguarda a confirmação do Ministério Público Federal (MPF) da cidade de Dourados de que não haverá conflitos com os fazendeiros.

O local escolhido para o sepultamento é considerado um tekoha (terra de ocupação tradicional dos Kaiowá), chamada pelos índios de Kurusu Amba. No último sábado, 50 famílias guarani-kaiowá ocuparam a fazenda. Dois dias depois, pistoleiros atacaram a tiros o grupo, e ocorreu a morte de Kurutê. O índio Valdeci Gimenez, 28 anos, também foi ferido com três tiros nas pernas (não corre risco de morte). Quatro indígenas também foram presos pela Polícia Civil, sob a alegação de roubo de uma carreta - entre eles, Francisco Fernandes, 38 anos, líder dos Kaiowá.

As informações são do coordenador regional do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), o missionário Egon Heck. Segundo ele, a comunidade indígena solicitou a ajuda do MPF, por meio do procurador da República Charles Pessoa. O objetivo é evitar "uma reação de fazendeiros e das milícias que atuam na região a mando dos latifundiários", garantindo tranqüilidade ao velório.

Segundo o delegado da Polícia Civil da região de Coronel Sapucaia e Amambai Marcelo Batistela Damasceno, não houve mais presos além dos quatro indígenas.

- Os índios foram presos após roubarem uma carreta, e estão à disposição da Justiça. Quanto à morte da índia, o caso está com a Polícia Federal, pois é competência dela -, resume o delegado.

Heck alega que os índios utilizaram o caminhão para pedir ajuda a seus "irmãos de aldeias
vizinhas", não se tratando de um furto.

- Era uma busca desesperada, frente a uma agressão sofrida -, disse ele.

A atuação da Polícia Civil no caso, de acordo com o missionário, é "sempre a mesma", com os matadores ficando livres e os índios indo parar atrás das grades.

Segundo o escritório regional do Cimi, já existe um estudo preliminar sobre a terra reivindicada pelos Guarani-Kaiowá, feito por antropólogos da Fundação Nacional do Índio (Funai), que indicariam ser a área em litígio pertencer à comunidade indígena. Os conflitos pela terra na região remontam aos anos 80.

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