Simpatizantes do Hezbollah, que há três semanas ocupam o centro de Beirute com um protesto que mudou a rotina dos libaneses na capital do país, citam a corrupção, os impostos e o desemprego como principais as queixas contra o governo pró-ocidental do Líbano. Mas poucos deles têm uma idéia clara sobre como o grupo xiita iria reformar ou gerenciar a endividada economia local, que ainda se ressente da paralisia política que obstrui a recuperação do país depois da devastadora guerra entre o Hezbollah e Israel, em julho e agosto.
- O novo governo será um presente de Deus - disse o manifestante Mohammed Sheheeby, de 22 anos, quando questionado sobre se o Hezbollah vai melhorar seu padrão de vida, caso obtenha poder de veto em um possível governo de unidade nacional.
O Hezbollah, financiado principalmente pelo Irã, não tem uma agenda formal de reformas econômicas. Seu apoio popular se deve principalmente à ação da sua guerrilha contra Israel e à assistência beneficente que presta a seus eleitores xiitas. Depois da guerra, o grupo distribuiu milhares de dólares em dinheiro vivo a desabrigados. Funcionários do Hezbollah disseram que o grupo gastou mais de 300 milhões de dólares em dinheiro iraniano na ajuda e reconstrução do pós-guerra.
Se as facções oposicionistas se tornarem parte integrante de um novo governo, não se sabe como elas lidariam com a enorme dívida pública do Líbano ou se promoveriam reformas. Ministros xiitas e cristãos de oposição mantiveram ministérios desde a posse do novo governo, há 17 meses, até o mês passado, quando se demitiram em apoio à exigência do Hezbollah pela formação de um governo de unidade.
- A oposição em geral não articulou de verdade o que deveria fazer, como faria para reduzir a dívida, além de apenas criticá-la. Eles se deram ao luxo de fazer isso até agora porque tudo o que querem é um terço (do governo) capaz de bloquear as decisões. Mas agora que eles pedem eleições antecipadas, e há uma ótima chance de que formem a maioria, eles terão de conquistar muita gente, convencendo as pessoas de que têm direito a tal maioria e mostrando o que vão fazer com ela - disse Amal Saad Ghorayeb, um especialista em assuntos relacionados ao Hezbollah.
O Hezbollah admite que sua prioridade no momento é política, não econômica.
- Consideramos que qualquer reforma política no país vai se refletir positivamente na reforma econômica e social. Então dissemos que abordaríamos as questões econômicas e sociais por meio do governo de unidade nacional - disse o parlamentar Amin Shirry, do Hezbollah, à agência inglesa de notícias Reuters.
O governo rejeita as propostas para que a oposição tenha poder de veto num futuro governo, nega as acusações de corrupção e acusa os adversários de prejudicarem a economia ao paralisar o centro empresarial de Beirute com seus protestos. As autoridades dizem também que a crise pode prejudicar uma conferência de ajuda programada para janeiro em Paris, que deve resultar em doações de bilhões de dólares ao Líbano. O Hezbollah desconfia da conferência, dizendo que os doadores ocidentais vão querer favores políticos em troca da ajuda.
O Líbano tem uma dívida de US$ 40 bilhões, cujos juros consomem quase dois terços da arrecadação governamental. Em frente ao gabinete do primeiro-ministro Fouad Siniora, os jovens seguidores do Hezbollah estão impacientes por mudanças.
- O governo está nos roubando, então haverá bondade no novo governo - disse Mohammed Silman, 25.
Protesto cristão
O patriarca maronita, Cardeal Nasrallah Pierre Sfeir, expressou sua contrariedade pelo prosseguimento do protesto promovido pelo "Hezbollah", que bloqueia o centro de Beirute. Segundo ele, "a ocupação é nociva à economia, e as manifestações não controladas representam um perigo para a família".
Sfeir manifestou-se após a celebração de uma missa dedicada à família, nesta quinta-feira. Ele alertou, na ocasião, para