Soldados do governo da Somália chegaram às cercanias da capital do país, Mogadíscio, em um comboio com vários veículos militares, depois da fuga de seus inimigos islâmicos.
- As pessoas saúdam e acenam com flores para os soldados - disse à agência inglesa de notícias Reuters o morador Abdikadar Abdulle, acrescentando que as tropas passaram pela Universidade Nacional da Somália.
O deputado somali Mohamed Jama Fuuruh disse, por telefone, do porto da cidade, que o "governo conquistou Mogadíscio"
- Agora estamos no comando - comemorou.
Já Abdirahman Dinari, porta-voz do governo, foi mais cauteloso:
- Estamos assumindo o controle da cidade e vamos confirmar quando tivermos estabelecido o controle completo. Antes, ele havia dito que tropas etíopes e somalis controlavam as principais rotas de acesso à capital e que em pouco tempo a ocupariam.
A Etiópia começou uma ofensiva em larga escala no fim de semana em apoio ao governo interino da Somália, tomando terreno que estava nas mãos da milícia islâmica.
- Nós não deixamos a capital em caos. Nós partimos para evitar pesado bombardeio porque as forças da Etiópia estão praticando genocídio contra o povo somali - disse o líder da milícia União das Cortes Islâmicas (UCI), xeque Sharif Ahmed, à emissora de televisão Al Jazeera.
Centenas de homens armados que lutavam pela UCI tiraram seus uniformes e se submeteram ao comando de chefes de clãs, disse a agência norte-americana de notícias Associated Press (AP). Moradores de Mogadíscio dizem que ouviram intenso fogo de artilharia no norte da capital nas primeiras horas desta quinta-feira - nono dia de um conflito em que ambos os lados dizem ter deixado centenas de mortos.
Até esta quinta-feira, as milícias islâmicas ainda controlavam a cidade portuária de Kismayo
Correspondentes afirmam que a partida da UCI deixa um vácuo de poder em Mogadíscio, despertando temores da volta de choques entre clãs que eram parte do cotidiano da cidade na década de 90.
A retirada ocorre depois que o Conselho de Segurança das Nações Unidas não conseguiu chegar a um acordo sobre a retirada das forças estrangeiras da Somália.
Saques e violência
Moradores relataram saques e tiroteios na capital, e um líder do Conselho das Cortes Islâmicas da Somália (CCIS) disse que suas principais autoridades haviam fugido. Os militantes islâmicos haviam tomado em junho a cidade das mãos de grupos armados apoiados pelos Estados Unidos.
Dinari disse que os militantes islâmicos fugiram para a cidade portuária de Kismayu, ao sul, e que o governo agora controla 95 por cento do país, que fica no nordeste africano.
O parlamentar disse posteriormente à Al Jazeera que o governo havia declarado estado de emergência "para controlar a segurança e a estabilidade".
O dirigente do CCIS disse que a apressada retirada de seus funcionários foi uma manobra tática na guerra iniciada na semana passada contra as tropas etíopes que protegem o frágil governo somali, que tem apoio ocidental.
O CCIS havia levado uma aparente estabilidade a Mogadíscio ao impor a sharia (lei islâmica). Agora, militantes e moradores disseram que a capital vive um colapso com a saída das autoridades islâmicas.
Milícias pró-governo, que antes controlavam a cidade, disseram ter capturado vários prédios na madrugada de quinta-feira, inclusive o antigo palácio presidencial.
- A incerteza paira no ar. Meu maior temor é de que a capital sucumba à sua velha anarquia. O governo deve entrar agora e assumir -- é a melhor chance antes de a cidade cair novamente nas mãos de líderes de milícias - disse o morador Muktar Abdi.
Ao fugirem, os militantes islâmicos aparentemente tentam evitar o risco de batalhas campais nas ruas, uma situação que há mais de dez anos obrigou os EUA a retirarem suas tropas de lá, depois do humilhante incidente retratado no filme Falcão Negro