O crescimento em ritmo mais acelerado do que a mineração atinge principalmente a Amazônia, bioma que responde por 91,6% da área degradada pela garimpagem. Os dados foram divulgados nesta terça-feira pelo Mapbiomas, projeto referência em estudos ambientais, e revelam o ritmo de crescimento da atividade.
Por Redação, com Brasil de Fato - de Brasília
A área atingida pelo garimpo ilegal em 2021 superou pelo terceiro ano consecutivo o território impactado pela mineração industrial no Brasil. Isso mostra que a extração de minérios no país ocorre, em sua maioria, sem quaisquer medidas compensatórias à natureza e às populações atingidas.
Manifestação popular em Brasília (DF) contra mineração e garimpo ilegal em terras indígenas
O crescimento em ritmo mais acelerado do que a mineração atinge principalmente a Amazônia, bioma que responde por 91,6% da área degradada pela garimpagem. Os dados foram divulgados nesta terça-feira pelo Mapbiomas, projeto referência em estudos ambientais, e revelam o ritmo de crescimento da atividade.
Entre 2010 e 2021, a área atingida pela garimpagem quase dobrou, passando de 99 mil para 196 mil hectares. Para duplicar em território, a mineração industrial precisou de uma década a mais, saltando de 86 mil hectares em 2001 para os 170 mil no ano passado.
– Embora ambas as atividades produzam impactos, a mineração industrial, que é controlada por grandes empresas, exige de todo um processo de licenciamento, acompanhamento da instalação, projetos de mitigação, controle de danos ambientais, previsibilidade do risco. No garimpo isso não existe – afirma Cesar Diniz, doutor em Geologia e coordenador técnico do mapeamento da mineração no Mapbiomas.
Rondônia desponta como nova frente garimpeira
Os principais polos do garimpo são Pará e Mato Grosso, ambos na Amazônia Legal, que juntos contém 82% da área garimpada no Brasil. O alerta é para o estado de Rondônia, que se consolida como uma nova frente garimpeira, concentrando 4,7% do território explorado.
– Em Rondônia, como no Pará e no Mato Grosso nós temos o pior jeito possível de se fazer garimpo, que é o garimpo que desmata, que escava e que utiliza o mercúrio para separar o ouro. É o tradicionalíssimo garimpo amazônico, que desmata primeiro, para então escavar as regiões que foram desmatadas – explica Diniz.
Mineração em áreas indígenas cresce 632%
Quase 90% da extração ilegal de minério está fora de áreas restritas, como Unidades de Conservação (UCs) e Terras Indígenas (TIs). Mas é justamente nessas onde ocorre um crescimento vertiginoso da atividade. Em TIs, o aumento foi de 632% entre 2010 e 2021. Nas UCs, saltou 352% entre 2009 e 2021.
As duas Terras Indígenas mais afetadas estão no Pará: Kayapó e Muduruku. Na sequência vem a Yanomami, a maior TI do Brasil em extensão, seguida por Tenharim do Igarapé Preto (AM) e Apyterewa (PA). Em função do garimpo, todas vivem um intenso processo de degradação social, com crescentes casos de alcoolismo, abusos sexuais e conflitos territoriais.
Negacionismo científico nas eleições
O garimpo não cresce apenas em área, mas também vem ganhando terreno político. Boa parte dos candidatos bolsonaristas nos estados da Amazônia Legal são defensores do garimpo e fazem promessas de regulamentação. O número de candidatos que reivindicam a legalização da atividade cresceu visivelmente. Há até a expectativa da formação de uma "bancada do garimpo" no Congresso.
Para acobertar os graves danos socioambientais provocados pela atividade, políticos têm procurado ressaltar aspectos supostamente positivos, como a geração de empregos. Outros procuram rebater evidências científicas de que o garimpo é uma atividade danosa, refutando, por exemplo, a periculosidade do mercúrio para a saúde humana. Ainda há quem diga que a garimpagem é "sustentável", pois as áreas degradadas são rapidamente regeneradas pela natureza.
É tudo mentira, garante o doutor em geologia.
– Mas quando existe um grupo de pessoas que diz, por exemplo, que garimpo não contamina ninguém, isso é de uma profunda ignorância científica. Quando o seu poder econômico advém de uma atividade ilegal, é normal que você distorça a informações científicas a seu interesse – conclui Cesar Diniz.