Rio de Janeiro, 17 de Setembro de 2025

Exigimos e fazemos outra democracia

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Quarta, 27 de Dezembro de 2006 às 10:55, por: CdB

Esta edição de 2007 aborda um desses temas maiores: a democracia. Trazida e levada, palavra pública quase tão profanada como a palavra amor ou como a palavra Deus, palavra escrita, falada, justificada com todas as verdades e todas as mentiras. A revista Nuevamérica introduzia seu número dedicado à democracia com esta justificativa pontual: "Num contexto em que vemos o presidente norte-americano se apropriar do termo democracia para justificar sua política de intervenção militarista, faz-se necessário, sem dúvida alguma, rediscutir este conceito que assume, cada vez mais e de maneira muitas vezes contraditória, caráter polissêmico".

De que falamos, quando falamos em democracia? A democracia atual, que é a forma política comum do Ocidente, em que é ou não é democracia? "Votar, calar e ver a TV", como dizia o humorista? A democracia que conhecemos, para as maiorias é apenas democracia fundamentalmente eleitoral e ainda com todas as restrições impostas pelo capital e seus meios de comunicação. Não é democracia econômica, nem democracia social, nem democracia étnico-cultural. Não é democracia participativa; é, quando muito, delegada ou representativa; mas, representativa de que interesses e delegada com que controles?

É uma democracia que enjoa e indigna. Alguém já falou de "fadiga democrática". Classificando-a numa tacada, a jornalista Katrina van den Heuvel, em seu Dicionário dos republicanismos, define-a como "governo das corporações, pelas corporações e para as corporações" e Pablo González Casanova, como "uma democracia dos poucos, com os poucos e para os poucos". Aquilo de "governo do povo, com o povo e para o povo" evaporou-se em populismos ilusórios e em sarcasmos neoliberais.

A Agenda, evidentemente, não pretende condenar "a democracia". Contesta categoricamente "esta democracia" que temos. E, com milhões de pessoas que sonhamos "outro mundo possível", quer exigir e ajudar a fazer "outra democracia".

Falando de "outro mundo possível", cremos que cada vez mais é hora de dar o passo de afirmar essa possibilidade, a exigir e fazer esse outro mundo, como necessário e urgente. E para isso "exigimos e fazemos outra democracia", proclama nossa Agenda 2007. Exigimo-la como um direito fundamental das pessoas e dos povos, em todas as latitudes. Porque exigimos para todas as pessoas e para todos os povos os direitos básicos e os direitos complementares. Não podemos aceitar uma democracia-privilégio, uma democracia-do-primeiro-mundo; menos ainda, uma democracia-imperial, "à mira de revólver", como ironizava Jesse Jackson. Os indígenas presentes ao Fórum Social Mundial de Caracas propugnaram enfaticamente "a descolonização da democracia".

Necessitamos dela e a exigimos "socializadora". Se os especialistas não sabem conjugar democracia e socialismo, pior para eles... O professor de história Agustí de Semir reconhecia que a democracia atual é, de fato, "a forma política do capitalismo". Por sua vez, o sociólogo Herbert José de Souza -o inesquecível Betinho-, num curso de bispos latino-americanos, recordava-nos o antagonismo essencial que existe entre democracia e liberalismo, entre capitalismo e democracia. Nem o liberalismo nem o capitalismo, explicava ele, podem pretender a democracia realmente popular, participativa, igualitariamente fraterna, mundial. "O liberalismo, dizia, porque promete uma igualdade abstrata com uma desigualdade real". E "o capitalismo porque está assentado na desigualdade e na desigualdade crescente". A democracia que nós defendemos não só pode ser "socialista", como tem que ser "socialista"; com um socialismo não envergonhado, mesmo que escarmentado. Ou se socializa a participação de todas as pessoas e de todos os povos nos direitos à vida, à dignidade, à liberdade, à alteridade, ou não haverá nem democracia nem paz. Do jeito que vai a história da democracia no Ocidente pode ser uma boa lição para não identificarmos a priori uma sociedade democrática com uma so

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