A invasão da Ucrânia pela Rússia motivou um debate sobre antigos memoriais da era soviética. Nos países bálticos, alguns já estão até sendo desmantelados. Na Alemanha, a situação é mais complicada.
Por Redação, com DW - de Bruxelas
Tanques, estátuas, relevos: memórias da era comunista ainda são onipresentes em muitos países que integravam a antiga União Soviética. Com a guerra da Rússia contra a Ucrânia, recomeçaram os debates sobre os monumentos que deveriam homenagear os soldados do Exército Vermelho mortos na Segunda Guerra Mundial.
A invasão da Ucrânia pela Rússia motivou um debate sobre antigos memoriais da era soviética Memorial de guerra em Narva, na Estônia, foi levado a museu Em Riga, deverão ser removidos 69 memoriais Controverso monumento em Klaipeda, na Lituânia Empresa de restauração recolocou o relevo de bronze de um memorial soviético no cemitério militar de Stralsund
Os países bálticos querem se livrar das relíquias do passado nas próximas semanas e meses, mesmo que nem todos concordem. O assunto também é polêmico em países como Finlândia e Alemanha.
Estônia: "Arma do crime"
Na terça-feira, as autoridades desmantelaram e realocaram um controverso monumento de um tanque soviético perto da cidade fronteiriça de Narva, entre a Rússia e a Estônia. O monumento na cidade habitada principalmente por russos étnicos é considerado particularmente controverso, a prefeitura inicialmente se manifestou contra a mudança. Os moradores veem o tanque como parte da identidade da cidade, argumentou.
Trabalhadores levaram o monumento em um caminhão pesado para o Museu da Guerra da Estônia, a uns bons 200 quilômetros ao norte da capital, Tallinn. Seis outros memoriais da era soviética também foram removidos da paisagem urbana.
O governo de Tallinn já havia dado luz verde para a remoção de monumentos soviéticos de espaços públicos no país báltico, que é membro da União Europeia (UE) e da Otan.
– Um tanque é uma arma do crime, não é um objeto de memória. E com os mesmos tanques estão sendo mortas pessoas nas ruas da Ucrânia – disse o primeiro-ministro Kaja Kallas. Até 400 monumentos devem ser desmantelados no país.
Letônia: opinião dividida
Muitos letões acham que o Monumento da Vitória Soviética na capital, Riga, não é mais aceitável, para os residentes de língua russa do país, no entanto, ele é de grande importância. Já em julho, o governo letão aprovou a remoção de 69 monumentos e placas que glorificavam, entre outras coisas, o regime soviético.
O desmantelamento do Monumento da Vitória Soviética está programado para ser concluído em 15 de novembro. O monumento foi erguido em 1985 para comemorar o 40º aniversário da vitória soviética sobre a Alemanha de Hitler na Segunda Guerra Mundial, como um "monumento aos libertadores da Letônia soviética e Riga dos invasores teuto-fascistas".
Lituânia: os nomes permanecem
Na Lituânia, também há discussões acaloradas sobre o destino dos monumentos. O desmantelamento do Monumento à Vitória e Glorificação do Exército Soviético em Klaipeda começou em julho. Apenas os nomes dos soldados soviéticos mortos devem permanecer no memorial.
Especialistas da administração da cidade haviam defendido a remoção apenas de partes do monumento, como a espada ou uma estrela vermelha de cinco pontas.
Finlândia: monumento polêmico
O debate sobre os presentes de Moscou também está a todo vapor na capital da Finlândia, Helsinque. No início de agosto, o Monumento da Paz Mundial foi removido e guardado no museu de arte. A cidade o havia instalado em 1990 como um presente da União Soviética.
A Escultura da Paz Mundial é uma das muitas réplicas da escultura original, e Helsinque é o único lugar fora da antiga União Soviética a ter a cópia. Mesmo assim, causou polêmica. Em 1991, a réplica chegou a ser pichada por estudantes. Cerca de nove anos depois, houve uma tentativa fracassada de explodir o monumento.
Alemanha: obrigação de preservar
Na Alemanha também há um debate sobre a preservação dos monumentos, que estão sendo pichados ou envoltos em bandeiras. Já em março de 2022, em Berlim, a política cristã-democrata Stefanie Bung pediu que armas e tanques fossem removidos de um memorial, o que foi rejeitado pela administração da cidade.
O político liberal-democrata de Dresden Stefan Scharf também tuitou em março de 2022: "Não, o Memorial de Guerra Soviético em Dresden não pode ficar. Não por causa de 1945, mas por causa de 1953, 1968 e 2022". O 1º Exército Blindado de Guardas da União Soviética, que estava estacionado em Dresden até 1993, esteve envolvido na repressão da revolta popular na Alemanha Oriental em 1953 e na repressão da Primavera de Praga em 1968.
Mas essa demanda não encontrou respaldo: a Alemanha é obrigada a honrar e cuidar dos memoriais soviéticos, é o que diz o tratado de 1990 entre a República Federal da Alemanha, a então República Democrática Alemã e as quatro potências vitoriosas da Segunda Guerra Mundial.
Já em Stralsund, no norte da Alemanha, foi adotada uma abordagem diferente: o relevo de bronze de um memorial soviético recentemente voltou a ser colocado em seu antigo lugar. Ele havia sido desmontado em fevereiro como parte de uma restauração planejada. A invasão da Ucrânia pela Rússia e a disputa política com Moscou não têm efeito sobre o memorial, afirmam as autoridades locais.