Rio de Janeiro, 25 de Junho de 2025

Especialistas constatam mudanças no padrão das notícias falsas

Arquivado em:
Quinta, 19 de Maio de 2022 às 12:44, por: CdB

O movimento da extrema direita brasileira fica cada vez mais parecido com o do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump. Antes mesmo de perder as eleições, no ano passado, para Joe Biden, o empresário apontou para uma suposta fraude eleitoral.

Por Redação, com BdF - de São Paulo
Se no ano eleitoral de 2018, as mensagens falsas que mais circulavam nas redes sociais estavam de alguma forma relacionadas aos próprios candidatos, agora o padrão são desinformações que visam lançar dúvidas sobre o processo eleitoral em si, segundo especialistas ouvidas pelo site de notícias Brasil de Fato (BdF). As recentes e constantes bravatas do presidente Jair Bolsonaro (PL) e de seus aliados sobre a suposta fragilidade das urnas eletrônicas são exemplos dessa mudança.
facebook.jpg
Adeptos do QAnon durante um evento de campanha de Trump na Pensilvânia, em um movimento que se assemelha ao da ultradireita brasileira
Não à toa, a pauta também é “dominante” nos grupos de extrema-direita nas profundezas do Telegram. — Nessas plataformas mais subterrâneas, como o Telegram, é dominância total da extrema-direita. E os [assuntos] mais compartilhados, as pautas e as narrativas que se sobressaem no conjunto dos grupos e canais que a gente analisa, tem a ver não necessariamente com alegação direta de fraude nas urnas, mas com a deslegitimação da institucionalidade que garante o resultado da eleição — disse Letícia Cesarino ao BdF. Ela é professora no Departamento de Antropologia e no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (PPGAS) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Crossover

No mais recente ato, o Bolsonaro afirmou que o Partido Liberal (PL), do qual faz parte, irá contratar uma empresa privada para fazer auditoria nas eleições. — A empresa vai pedir ao TSE algumas informações. O que pode acontecer? Essa empresa que faz auditoria no mundo todo, empresa de ponta, pode chegar à conclusão que, dada a documentação que se tem na mão, ela pode falar que não foi auditável. Olha a que ponto vamos chegar — afirmou Bolsonaro. Segundo Cesarino, “isso sempre esteve colocado, mas nesse ano a pauta ganhou corpo”. — No 7 de setembro, por exemplo, uma pauta que ganhou proeminência foi o passaporte sanitário, mas numa espécie de crossover com a pauta de fraude nas urnas. Eram boatos de que pessoas não vacinadas seriam impedidas de votar. Então mesmo que não seja a pauta (naquele momento), o tema está circulando pelo menos desde setembro — disse a antropóloga.

Capitólio

O movimento da extrema direita brasileira fica cada vez mais parecido com o do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump. Antes mesmo de perder as eleições, no ano passado, para Joe Biden, o empresário apontou para uma suposta fraude eleitoral. — Em todo caso, nada importa porque as eleições na Califórnia estão totalmente manipuladas — afirmou Trump, na época. Mesmo depois de derrotado, ele não reconheceu os resultados das urnas, estimulando sua base eleitoral a se rebelar, levando-os a invadir o Capitólio. Segundo Cesarino, uma das características desses grupos da extrema-direita que habitam os subterrâneos das redes sociais é a pretensão de revelar verdades que a imprensa e os opositores querem esconder. — O modo como eles se vendem, como produtores de conteúdo tem a ver com estar revelando verdades que a mídia esconde. E é assim que eles ganham fidelidade desses seguidores — resume a pesquisadora.
Edições digital e impressa
 
 

 

 

Jornal Correio do Brasil - 2025

 

Utilizamos cookies e outras tecnologias. Ao continuar navegando você concorda com nossa política de privacidade.

Concordo