Neves não escondia sua insatisfação gerada com o programa partidário da legenda, autorizado por Jereissati. A peça publicitária condenava o fisiologismo do partido.
Por Redação - de Brasília e São Paulo
O presidente licenciado do partido, senador Aécio Neves (MG) desistiu de enfrentar, de frente, o grupo tucano que defende o desembarque do governo de Michel Temer. Na manhã desta quinta-feira, Neves confirmou a permanência do senador Tasso Jereissati (CE) como presidente interino da legenda até dezembro. O PSDB irá realizar sua convenção partidária no final do ano e definir a composição da sua diretoria.
— Paz no ninho tucano — anunciou Aécio Neves.
Mas não é exatamente isso que ocorreu na reunião com os 27 presidentes dos diretórios estaduais do PSDB. Diante da derrota, o mineiro saiu antes do encerramento.
Sem credibilidade
Neves não escondia sua insatisfação gerada com o programa partidário da legenda, autorizado por Jereissati. A peça publicitária condenava o fisiologismo do partido. Ao mesmo tempo, insinuava o envolvimento de seus integrantes em investigações da Lava Jato. No caso, Aécio Neves.
— Isso está completamente superado. Há 20 dias quando ele quis devolver o cargo, eu insisti para que ficasse e hoje lhe disse novamente que ele é o melhor nome para conduzir o partido até dezembro. O programa gerou desconfortos, mas aqueles pontos onde havia divergências estão completamente superados — disse Neves em seu discurso. Mas a audiência não pareceu acreditar em uma só palavra do que ele disse.
Apesar do discurso conciliador, o senador mineiro diz ser necessário acabar com a disputa interna entre os grupos que defendem e os que pedem que o PSDB deixe a base aliada do governo Michel Temer.
Governo do PMDB
— Não podemos aceitar essa marca, essa pecha, de que existem alas no PSDB. Ala dos governistas e ala dos não governistas. Isso é balela. Somos todos brasileiros preocupados com o país. Se apoiar um governo de baixa popularidade para aprovar nossa agenda de reformas, vamos pagar esse preço. Não estamos atrás de cargos e benesses — afirmou. O PSDB, porém, integra quatro ministérios no governo Temer; além de outros cargos na máquina pública federal.
Segundo Aécio Neves, depois de apoiar o impeachment de Dilma Rousseff, o partido teria a “obrigação de apoiar Temer”.
— Essa história de apoiar as reformas fora do governo não funciona. A aprovação das reformas da previdência, tributária e política se consolidará com mais facilidade com o PSDB dentro do governo. Esse governo não é do PMDB. Quando o processo eleitoral for deflagrado, cada uma seguirá seu caminho — discursou.
Críticas ácidas
Apesar do discurso apaziguador, o nível de críticas ao tucano mineiro permanece alto. Presidente do PSDB paulistano e vereador, Mario Covas Neto, afirmou que é "vergonhosa" a condução de Aécio Neves à frente do partido
— Veja só. Ele está licenciado. Não dá para continuar falando como se fosse o articulador. Não posso conceber que tenha na direção alguém que esteve em agenda extraoficial com o presidente Temer em que o tema era a substituição do Tasso (Jereissati, presidente interino). Ter gente pressionando para que ele retorne para tirar o Tasso, que tem uma certa independência, mostra o quanto ele está dominando como se fosse dono — reclamou Covas Neto.
Ainda segundo o parlamentar paulistano, a explicação de Aécio para os crimes de que é acusado foi pouco convincente.
Bandido favorito
— Se ele conseguir demonstrar que não tem nada de errado, ótimo, volte. Não estou brigando com Aécio, tento traduzir o que parte do PSDB acha. É vergonhoso aceitar na direção alguém pego em uma gravação desse tipo — disse Covas Neto.
Ele acrescentou que não quer ter “um bandido favorito”.
— Não quero ter meu malvado favorito, meu ladrão favorito. Não quero ter a postura que o petista tinha de dizer que se Lula é inocente ou não, não faz mal, rouba, mas faz. Lutei a vida inteira para o PSDB não ser igual aos outros, e o que o Aécio está fazendo é dizer, sim, somos iguais — concluiu.