Autor da delação relata que Temer “sempre soube” dos esquemas criminosos que sustentaram grupo do PMDB.
Por Redação - de Brasília
Em delação premiada homologada pelo Supremo Tribunal Federal, o doleiro Lúcio Funaro, operador de propinas para um grupo do PMDB, revelou que o presidente de facto, Michel Temer, atuava como lobista e cobrava repasses de caixa 2. O peemedebista também teria recebido uma fortuna em dinheiro vivo, a título de propina, diz Funaro.
O operador do esquema, preso no âmbito da Operação Lava Jato, relatou ainda que seu associado, o presidiário Eduardo Cunha, ex-deputado do PMDB fluminense, era o encarregado de levar e trazer as orientações de Temer acerca da distribuição do dinheiro sujo.
— Essa interface era feita por Eduardo Cunha — declarou Funaro à Polícia Federal (PF). Ele acrescentou, no entanto, no depoimento vazado nesta sexta-feira para a mídia conservadora, que era informado por Cunha sobre as divisões da propina.
Funaro e a propina
Funaro garantiu, ainda, que Temer "sempre soube" de todos os esquemas tocados pelo ex-deputado.
— Temer participava do esquema de arrecadações de valores ilícitos dentro do PMDB. Cunha narrava as tratativas e as divisões (de propina) com Temer — disse, na delação.
Temer seria, ainda, titular de repasses de recursos ilícitos, segundo a delação de Lúcio Funaro. Um deles, de R$ 1,5 milhão, teria sido pago por executivos do grupo Bertin. O segundo, em 2014, originou-se de “um acerto com a JBS”, acrescentou.
Funaro relata, ainda, ter intermediado um pagamento de R$ 7 milhões da JBS que tinha como destinatários Temer, Cunha e o ministro da Agricultura na época, Antônio Andrade. Temer teria, ainda, intermediado um pagamento de R$ 5 milhões de Henrique Constantino, do Grupo Constantino, à campanha do então deputado Gabriel Chalita à prefeitura de São Paulo, em 2012.
Outra delação
Citado na delação de Funaro e principal algoz de Temer nas denúncias em curso na Procuradoria Geral da República (PGR) um dos donos do Grupo JBS Joesley Batista teve revogada a imunidade concedida por Rodrigo Janot. Aumenta, assim, a chance de ser preso, na companhia de outros executivos da companhia.
A posição do procurador-Geral estava pronta e seguiria, ainda nesta sexta-feira, ao ministro Edson Fachin, relator da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF).
Em depoimento à Procuradoria-Geral da República, na véspera, Joesley Batista afirmou que não recebeu orientações do ex-procurador Marcello Miller para negociar um acordo de delação. Nem para gravar o presidente Michel Temer no encontro no Palácio do Jaburu, em 7 de março. O empresário depôs por quase três horas na sede da PGR, na noite passada.
Também prestaram depoimento outros dois delatores: Ricardo Saud, diretor e lobista do grupo; e o executivo e advogado da empresa Francisco de Assis e Silva. Todos foram chamados esclarecer o áudio entregue à Procuradoria na semana passada. Todos negaram a veracidade das informações. Segundo Joesley, tudo não passoui de “conversa de bêbado”.
Essa nova gravação, de 17 de março e com cerca de quatro horas de duração, serviu como pretexto para Janot anunciar a abertura de investigação para apurar omissão de informações. Ele ameaça, agora, revisar os benefícios concedidos, incluindo a imunidade penal.