O bloqueio norte-americano a Cuba, remanescente da Guerra Fria no Caribe, fará amanhã 45 anos de aplicação ininterrupta e sem mudanças significativas à vista, enquanto que Havana denuncia o seu caráter "genocida" e prejuízos US$ 86 bilhões.
Em 3 de fevereiro de 1962 a Proclamação 3447 do presidente John Kennedy impôs o bloqueio econômico total de Washington a Cuba, formalizando o confronto ideológico com a Revolução que em1959 triunfou sob a liderança de Fidel Castro, convalescente há seis meses depois de uma cirurgia, quando cedeu provisoriamente o poder ao seu irmão Raúl.
A política atual dos Estados Unidos em relação a Cuba "perdurará algum tempo", disse o chefe do Parlamento, Ricardo Alarcón, que descartou mudanças importantes no curto prazo da Casa Branca para com o país.
O embargo, que impede que Cuba comercialize com o seu vizinho, salvo exceções; e tenha acesso a créditos internacionais "não é útil nem para Cuba nem para os Estados Unidos: é útil para o governo cubano e para os que nos Estados Unidos acreditam que a asfixia pode levar à democratização do país", opinou o opositor e historiador Manuel Cuesta Morúa.
Em 2004, o atual presidente norte-americano, George W. Bush, agravou as sanções com novas limitações ao envio de remessas de cubanos radicados nos Estados Unidos para seus familiares em Cuba (um máximo de US$ 300 a cada três meses) e proibiu aos emigrados viajar mais de uma vez a cada três anos ao seu país de origem.
Desde então as viagens de cubano-americanos caíram em 54%, passando de cerca 115 mil em 2003 para pouco menos do que 62 mil em 2005; e as de norte-americanos (que precisam de uma autorização especial do Departamento de Estado) em 45%: de mais de 85 mil em 2003 para 39 mil em 2005.
- Havana e Washington defendem uma 'política hormonal' equivalente, na qual uma parte tenta destruir a outra - disse Cuesta Morúa.
- O bloqueio é o mais longo da história e o principal obstáculo para que Cuba se desenvolva plenamente; e um ato de genocídio, de acordo com a Convenção de Genebra - opinou o chanceler Felipe Pérez Roque.
Segundo cálculos oficiais, o prejuízo econômico ao povo cubano (70% de seus 11,2 milhões de habitantes nasceram sob a sua aplicação) supera os US$ 86 bilhões, valor este que se atualiza anualmente.
O interinato de Raúl Castro, somado ao domínio democrata do Congresso norte-americano, poderia facilitar uma distensão, com uma eliminação inicial das sanções impostas por Bush, segundo observadores.
- Entre os norte-americanos, há muita gente contrária a esta política do embargo, inclusive na Florida - disse Sonja De Vries, uma brigadista norte-americana de visita em Cuba.
Perseverante na sua ofensiva internacional, Havana apresenta desde 1992 o documento "Necessidade de pôr um fim ao embargo econômico, comercial e financeiro imposto pelos Estados Unidos contra Cuba" perante a Assembléia Geral das Nações Unidas (ONU).
A ONU apoiou no ano passado com uma votação recorde (183 a 4, com os Estados Unidos incluídos) a moção cubana. Em 1992 só 59 países se pronunciaram favoráveis à resolução.