As ruas da capital mexicana amanheceram ainda com os traços da manifestação de dezenas de milhares de manifestantes que realizaram uma passeata que entrou pela madrugada. O alvo dos protestos era o aumento do preço das tortilhas. O crescimento da demanda por etanol nos EUA fez com que o preço do milho atingisse os patamares mais altos da última década, puxando para cima o preço das tortilhas, o "pão" dos mexicanos. Na passeata, os manifestantes exibiram espigas de milho e criticaram Calderón, um político conservador acusado pelos esquerdistas de ter vencido as eleições presidenciais de 2006 por meio de fraudes. O dirigente, segundo os manifestantes, não estaria conseguindo proteger os mexicanos das forças do mercado internacional.
- Calderón não é somente um ladrão, é também um assassino, e isso porque ele quer ver a gente morrer de fome - afirmou Elvira Acevedo, 62, que participava do evento.
O rival esquerdista de Calderón nas eleições, Andrés Manuel López Obrador, vem usando o aumento do preço das tortilhas para atacar o governo. Ele participou da manifestação de quarta-feira.
- A direita desumaniza tudo. Estamos vendo as consequências da imposição de um governo formado por criminosos do colarinho branco. Eles são um perigo para o México - afirmou a simpatizantes reunidos na praça Zocalo o ex-ativista de grupos de defesa dos direitos indígenas.
Nas últimas semanas, enquanto o mercado do milho registrava um crescimento da demanda, o preço das tortilhas de milho subia para até 15 pesos (US$ 1,36) o quilo (o equivalente a cerca de 35 tortilhas). O México importa milho dos EUA a fim de complementar sua produção nacional. Calderón respondeu convencendo os produtores, os atravessadores e os varejistas a diminuírem os preços, tentando fazer com que as tortilhas não fossem vendidas por mais que 8,50 pesos o quilo. Mas, segundo meios de comunicação mexicanos, os consumidores continuam pagando até 12 pesos pelo quilo do produto.
Antes da crise, o quilo da tortilha saía por 5 pesos. Após ter tomado posse, em 1º de dezembro, Calderón foi elogiado dentro e fora do México por mobilizar milhares de soldados na luta contra o tráfico de drogas. Mas o que vem sendo chamado de a "crise da tortilha" para a metade da população mexicana que ganha US$ 5 dólares ou menos está tomando conta das manchetes. López Obrador realizou grandes protestos responsáveis por paralisar a Cidade do México enquanto contestava vigorosamente o resultado das eleições presidenciais. Mas a principal corte eleitoral do país descartou as acusações de fraude feitas pelo candidato e confirmou a vitória de Calderón.