Tiroteios e vôos rasantes de aviões etíopes assustaram, na madrugada desta quarta-feira, a população que vive na região de fronteira entre Somália e Quênia, cenário da luta entre o governo somali e militantes islâmicos. Os militantes fugiram, na segunda-feira, de seu último reduto, após duas semanas de guerra, mas prometeram continuar lutando. Enquanto isso, o governo, apoiado pela Etiópia, se instala na capital, Mogadíscio, oferece anistia aos rebeldes e tenta impor sua autoridade.
Os guerrilheiros se dispersaram pelas montanhas que ficam entre a cidade portuária de Kismayu e a longa fronteira com o Quênia. Moradores de Liboi, localidade queniana fronteiriça, disseram ter visto caças e helicópteros etíopes sobre a cidade somali de Doble, a 25 quilômetros, na noite de terça-feira. Em seguida, ouviram disparos, que se estenderam até depois de meia-noite.
- Quando ouvimos os tiros entramos em pânico, embora soubéssemos que podiam ser esses grupos lutando do outro lado da fronteira - disse um morador.
O governo queniano fechou a fronteira para impedir a infiltração de militantes da Somália. Oito suspeitos foram detidos no domingo quando tentavam entrar no Quênia, perto de Liboi. Na terça-feira, uma emboscada matou pelo menos um soldado etíope, mostrando que os confrontos continuam. O governo etíope diz que suas tropas permanecerão no país vizinho durante mais algumas semanas. O primeiro-ministro somali, Ali Mohamed Gedi, diz que a presença estrangeira pode durar meses.
Em Bruxelas, diplomatas estrangeiros se reuniram para incentivar uma retomada do processo de paz.
- Queremos ver um processo político inclusivo na Somália, sem o qual será difícil alcançar a segurança - disse o chanceler sueco, Carl Bildt, à agência inglesa de notícias Reuters, antes da reunião.
Tanto a Etiópia quanto a Somália querem o envio imediato de tropas internacionais de paz. A Uganda ofereceu um batalhão, desde que a missão e a estratégia de saída estejam claramente definidas. A Nigéria também pode ajudar. Analistas dizem que os militantes, com a ajuda de combatentes estrangeiros, podem iniciar uma insurgência em estilo iraquiano contra o governo somali, que tem apoio da Etiópia, uma potência cristã odiada por eles.
O primeiro-ministro Gedi disse que o governo prendeu combatentes árabes, rebeldes etíopes e soldados enviados pela Eritréia, arquiinimiga da Etiópia. De acordo com diplomatas, navios militares dos EUA patrulham o litoral somali para impedir a fuga de militantes. O governo exigiu que todos os milicianos e moradores de Mogadíscio entreguem suas armas até quinta-feira. Mas, em um posto de coleta visitado pela Reuters, nem uma só pistola havia sido entregue. "Armas são meios de emprego para muitos. Pedir a eles que simplesmente deponham suas armas é como dizer a eles que não trabalhem e não comam", afirmou um morador da capital.
Apelos
Presidente do Quênia, Mwai Kibaki fez nesta terça-feira um apelo para que todos os lados envolvidos no conflito na Somália participem de negociações de paz.
O apelo foi feito durante um encontro com o presidente da Somália, Abdullahi Yusuf, na cidade queniana de Mombassa. Kibaki afirmou que o Quênia não será usado como refúgio pelos milicianos islâmicos expulsos pelas forças somalis com o apoio de tropas da Etiópia. Em resposta a um pedido do governo da Somália, o Quênia deslocou tropas para a fronteira para interceptar membros das milícias islâmicas em fuga após a queda de Kismayo, sua última base de apoio, na segunda-feira.
Até serem expulsos, os membros da milícia União das Cortes Islâmicas (UCI) controlaram a maior parte da Somália durante os últimos seis meses. Os islâmicos afirmam que a sua retirada é estratégica e alertam para uma insurgência. Nesta terça-feira, helicópteros etíopes que perseguiam os milicianos islâmicos bombardearam por engano um posto de controle na fronteira com o Quênia.
As bombas,