O atual momento é oportuno para que o Brasil consiga um crescimento econômico maior, na avaliação do ministro da Fazenda, Guido Mantega.
Em entrevista exclusiva à BBC Brasil, em Londres, ele disse que o momento favorável o faz acreditar que o crescimento acelerado virá, ao contrário do que ocorreu após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter prometido um "espetáculo do crescimento" durante seu primeiro mandato.
Mantega esteve nesta semana na Grã-Bretanha para divulgar o Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) entre investidores e também para encontros com autoridades. Ele falou antes de retornar ao Brasil, na quinta-feira.
Durante a entrevista, Mantega afirmou que seu objetivo é reduzir a carga tributária a níveis semelhantes a de outros países emergentes, disse acreditar que a taxa básica de juros chegue a um dígito em breve e argumentou a favor da participação do Estado na economia como propulsor do crescimento por meio de investimentos públicos.
Leia abaixo a entrevista concedida por Mantega:
BBC Brasil - Um relatório do Ministério da Fazenda indica que as expectativas não se alteraram após o lançamento do PAC e que o mercado continua apostando num crescimento de 3,5% para este ano. O governo não conseguiu ainda convencer os investidores sobre a viabilidade do plano?
Guido Mantega - As pesquisas que fazem previsão do crescimento em geral se referem ao período anterior. Olham com o retrovisor, não as possibilidades para a frente.
É comum que essas pesquisas depois se movam lentamente quando tivermos resultados positivos no crescimento.
À medida em que houver um aumento dos investimentos do setor público e do setor privado, acredito que essas previsões vão se mover para a frente até chegar a um valor satisfatório.
BBC Brasil - No primeiro mandato, o presidente Lula prometeu um "espetáculo do crescimento", que não se cumpriu. Por que acreditar que desta vez será diferente?
Guido Mantega - A situação que o país vivia no início do primeiro mandato é totalmente diferente da que encontramos hoje. Nós tínhamos uma vulnerabilidade externa muito grande, a inflação era mais de 10% e as contas públicas estavam desequilibradas.
A dívida publica era de mais de 56%, hoje está a menos de 50%, a inflação a menos de 4% e as contas públicas equilibradas.
As condições de hoje são muito mais favoráveis para que haja um crescimento nos próximos anos. Agora nós podemos afirmar: no Brasil.
BBC Brasil - Em economia, expectativas são importantes e podem ter influência no resultado. Se o mercado não acredita num crescimento mais forte, isso não pode prejudicar o resultado?
Guido Mantega - Se o crescimento do ano passado foi menos de 3% e as previsões são de 3,5%, já há uma crença de que vai haver uma aceleração do crescimento.
Precisamos apenas nos colocar de acordo sobre qual será essa aceleração, maior ou menor. Se pegarmos a pesquisa de expectativas da Fundação Getúlio Vargas, que saiu nesta semana, vemos que há uma expectativa positiva dos empresários para 2007.
Eles estarão aumentando os níveis de investimento não só por uma questão de expectativa, mas porque o mercado interno brasileiro está crescendo, a demanda interna está crescendo, a massa salarial está em crescimento, e tudo isso cria as condições para que eles tenham mais lucros nos próximos meses.
BBC Brasil - Uma das principais críticas ao governo e também ao PAC é que a carga tributária não está sendo reduzida significativamente. Um estudo divulgado recentemente pela consultoria KPMG relaciona a redução da carga com o crescimento econômico, citando o exemplo da Irlanda, que reduziu a carga de 40% para 12,5% do PIB desde 1993 e teve um crescimento acelerado, ultrapassando a média da União Européia. O se