O grande número de controladores militares de vôo pedindo atendimento médico por motivo de estresse, sobretudo em Brasília, pode comprometer o tráfego aéreo durante o Carnaval.
Fonte da Aeronáutica identificou grande número de profissionais alegando dificuldades para dormir causadas pelo estresse. Esses controladores têm pedido a médicos da corporação que lhes receitem remédios que, por serem de tarja preta, reduzem o nível de atenção e impedem que trabalhem. Um controlador, que não quis se identificar, revela o que os passageiros devem aguardar. - Nós não iremos nos submeter às imposições do governo federal, que quer mostrar eficácia, quando, na verdade, o que existe é uma defasagem real no efetivo. No momento, há um suprimento de apenas 50% da carência, com controladores de vôo cedidos de outros Estados - revela.
O Comando da Aeronáutica informou que desconhece qualquer tendência a pedidos de licença médica coletivo por parte de controladores. Segundo o comando, dificilmente os Centros Integrados de Defesa Aérea e de Controle de Tráfego Aéreo (Cindactas) concederão licença a um número excessivo de profissionais, a ponto de comprometer as operações, e mesmo que isso aconteça, haverá equipes de prontidão para substituí-los.
Segundo a Aeronáutica, 127 controladores de vôo foram incorporados desde novembro do ano passado, sendo 60 inativos readmitidos após edição de medida provisória e 67 novos controladores, formados em novembro - o que permitiria a manutenção do serviço sem grandes problemas.
O movimento dos controladores seria uma reação à pressão exercida sobre a categoria, apontada como uma das responsáveis pelos transtornos ocorridos desde 2006, inclusive pelo acidente que provocou a queda de um avião da Gol, no dia 29 de setembro, causando a morte de 154 pessoas. Esta semana, o Ministério Público Federal deu parecer favorável a pedido da Polícia Federal, prorrogando por mais um mês as investigações sobre as causas e responsabilidades do desastre.
O presidente do Sindicato Nacional dos Trabalhadores em Proteção de Vôo, que representa servidores civis da Aeronáutica, Jorge Botelho, admitiu que muitos controladores têm pedido afastamento por motivos médicos, mas negou se tratar de um movimento pensado. -Sabemos apenas que ocorrem muitos pedidos de licença médica - afirmou.
Remuneração baixa e trabalho em excesso
A presidente da Unemfa (União Nacional das Esposas de Militares das Forças Armadas), Ivone Luzardo, admitiu que podem acontecer mais atrasos nos vôos programados para o período de Carnaval. - Como ocorre em todo feriado prolongado, há um aumento da demanda, contexto para o qual o Brasil não está preparado - alerta Ivone, numa referência aos vários dias de caos nos aeroportos do País registrados no ano passado.
Ivone afirma ainda que a baixa remuneração e cobranças excessivas estão afetando em muito a saúde dos profissionais do setor. - Controladores de vôo não são robôs. São trabalhadores que precisam estar com o seu lado emocional em dia, com o período de descanso respeitado, como estabelecem as normas internacionais - adverte.