De acordo com o delegado Martín Bottaro Purper, atual encarregado pelo inquérito, o objetivo da nova apuração é identificar eventuais mandantes ou financiadores do atentado. O pedido de diligência, no entanto, ocorre em meio à denúncias de que setores da PF, aparelhados por Bolsonaro, estariam buscando forjar fatos para justificar operações contra o ex-presidente Lula.
Por Redação, com RBA - de São Paulo
Às vésperas do segundo turno das eleições presidenciais, a Polícia Federal (PF) pediu à Justiça para interrogar novamente Adélio Bispo de Oliveira, apontado como o autor da facada contra o presidente Jair Bolsonaro (PL) em Juiz de Fora (MG), durante campanha eleitoral em 2018. Este, segundo dirigentes da campanha petista que trabalham pela eleição do líder popular Luiz Inácio Lula da Silva, seria o primeiro passo do adversário, o presidente Jair Bolsonaro (PL), na direção de um possível golpe a poucos dias do término desta disputa.
Paciente psiquiátrico Adélio Bispo, autor da suposta facada ao então candidato Jair Bolsonaro
De acordo com o delegado Martín Bottaro Purper, atual encarregado pelo inquérito, o objetivo da nova apuração é identificar eventuais mandantes ou financiadores do atentado. O pedido de diligência, no entanto, ocorre em meio à denúncias de que setores da PF, aparelhados por Bolsonaro, estariam buscando forjar fatos para justificar operações contra o ex-presidente Lula e seus aliados.
Uma reportagem do diário conservador paulistano Folha de S. Paulo, publicada nesta terça-feira, também mostra que Purper assumiu o inquérito no início deste ano. Mas apenas no dia 21 de setembro, duas semanas antes do primeiro turno das eleições, o delegado pediu à Justiça Federal em Mato Grosso do Sul acesso ao laudo de avaliação do estado de saúde mental de Adélio, produzido em julho por dois peritos. O intuito, segundo ele, é saber detalhes das condições atuais de saúde de Adélio antes de efetivar um novo interrogatório.
Sob pressão
O delegado anterior responsável pelo caso, Rodrigo Morais Fernandes já havia, no entanto, concluído por duas vezes que Adélio agiu sozinho e que não houve mandante no atentado contra Bolsonaro. Fernandes saiu, porém, sendo alvo de críticas do presidente e seus aliados. Em dezembro do ano passado, ele foi designado pela direção da PF para uma missão de dois anos como integrante de força-tarefa, em Nova York (NY-EUA).
Purper, então, assumiu a frente das investigações sob a pressão do atual governo federal para aderir a tese de que a facada teria sido orquestrada. Ainda em novembro de 2021, o advogada da família Bolsonaro, Frederick Wassef, pediu que o caso fosse reaberto. A defesa ainda requisitou que os dados bancários e o conteúdo do celular do advogado Zanone Oliveira Júnior, que atuou na defesa de Adélio, fossem vasculhados. O que foi acatado pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TFR-1).
O clã argumenta que as informações podem revelar quem custeou os honorários advocatícios, apesar da prática ser considerada uma violação ao sigilo da categoria.
Urnas eletrônicas
Em outra frente dos argumentos que a campanha bolsonarista usa, na tentativa de embaraçar os resultados das eleições, o ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), determinou nesta manhã que o Ministério da Defesa apresente à corte a cópia de documentos existentes sobre a fiscalização ‘paralela’ das urnas eletrônicas feita pela pasta durante o primeiro turno destas eleições.
O magistrado viu possível desvio de finalidade e abuso de poder na eventual entrega do relatório de auditoria do sistema eletrônico de votação ao presidente Bolsonaro, candidato à reeleição.
“Notícias de realização de auditoria das urnas pelas Forças Armadas, mediante entrega de relatório ao candidato à reeleição, parecem demonstrar a intenção de satisfazer a vontade eleitoral manifestada pelo Chefe do Executivo, podendo caracterizar, em tese, desvio de finalidade e abuso de poder”, alertou o presidente do TSE no despacho.
Aprovação
O Tribunal de Contas da União (TCU) realizou o mesmo procedimento que as Forças Armadas, em 541 urnas eletrônicas, e apresentou os resultados da auditoria apenas dois dias após a divulgação o fim do primeiro turno. O relatório entregue pelo TCU atesta a segurança dos dispositivos e expõe que não houve intercorrências no dia da votação, tampouco tentativas de fraude. Ministros da Corte de Contas e do TSE têm chamado esse procedimento de “fiscalização” da contagem paralela dos militares, pois serviria como forma de confrontar eventuais contestações da Defesa.
O TSE também divulgou relatórios preliminares sobre a realização da votação e do teste de integridade com biometria proposto pelos militares e, em ambos os casos, a Corte atestou ter obtido “sucesso total” e “100% de aprovação” nos estudos realizados.