A crítica brasileira foi motivada pelas recentes tarifas de 50% impostas por Trump contra produtos brasileiros, supostamente relacionadas à situação legal do ex-mandatário neofascista Jair Bolsonaro (PL).
Por Redação, com Reuters – de Genebra
O governo brasileiro aproveitou uma das sessões mais importantes da Organização Mundial do Comércio (OMC), realizada nesta quarta-feira, para criticar abertamente o uso de tarifas comerciais por parte do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump e deixar claro que não receia abrir uma guerra comercial com os EUA. Sem citar diretamente o nome do mandatário norte-americano, o Itamaraty classificou as medidas como interferências inaceitáveis em assuntos internos de outros países — o que gerou o apoio de membros do BRICS como Rússia e China, e provocou resposta imediata da diplomacia dos EUA.

A crítica brasileira foi motivada pelas recentes tarifas de 50% impostas por Trump contra produtos brasileiros, supostamente relacionadas à situação legal do ex-mandatário neofascista Jair Bolsonaro (PL), réu no Supremo Tribunal Federal (STF) pela suspeita de liderar o golpe de Estado fracassado no 8 de Janeiro.
Para o Itamaraty, esse tipo de política constitui uma ameaça ao sistema de comércio multilateral.
Cenário
Durante reunião fechada em Genebra, o embaixador Philip Fox-Drummond Gough, secretário de Assuntos Econômicos e Financeiros do Itamaraty, destacou com veemência os riscos desse cenário.
— As negociações baseadas em jogos de poder são um atalho perigoso para a instabilidade e a guerra — advertiu. Segundo o diplomata, “infelizmente estamos testemunhando um ataque sem precedentes ao Sistema de Comércio Multilateral e à credibilidade da OMC”.
Sem mencionar Trump nominalmente, Gough afirmou que “tarifas arbitrárias, anunciadas e implementadas de forma caótica, estão desestruturando as cadeias globais de valor e correm o risco de lançar a economia mundial em uma espiral de preços altos e estagnação”.
Equilíbrio
Para o governo brasileiro, as tarifas violam princípios fundamentais da OMC, especialmente os relativos à não discriminação e ao tratamento de nação mais favorecida.
— Elas perturbam o equilíbrio das condições de acesso ao mercado negociadas nas estruturas do GATT e da OMC por várias décadas — acrescentou o embaixador brasileiro.
O ponto mais grave, segundo Gough, é o uso das tarifas como mecanismo de coerção política.
— Estamos testemunhando agora uma mudança extremamente perigosa em direção ao uso de tarifas como uma ferramenta na tentativa de interferir nos assuntos internos de terceiros países — pontuou.
Princípios
O diplomata reafirmou os princípios constitucionais da política externa brasileira.
— Como uma democracia estável, o Brasil tem firmemente enraizados em nossa sociedade princípios como o Estado de Direito, a separação de poderes, o respeito às normas internacionais e a crença na solução pacífica de controvérsias — reiterou.
Gough sinalizou que o Brasil ainda busca soluções diplomáticas, mas está preparado para acionar o mecanismo de resolução de disputas da OMC, hoje parcialmente paralisado.