Meu texto já estava resumido na cabeça. Seria qualquer coisa como: O Nariz de Bolsonaro no discurso da ONU. Ele mente como respira.
Foi quando aconteceu o inesperado, provando haver realmente um deus nos socorrendo nas horas graves.
E como sempre a mensagem veio por WhatsApp.
Era um brado nacionalista, em defesa de nossa Pátria amada, verde-amarela. Dizia mais ou menos o seguinte: “vocês que estão lá fora, brasileiros ou estranjas, calem a boca, a Amazônia é nossa e nós queimamos árvores, matamos índios, assamos animais da floresta o quanto quisermos. Vão cuidar de suas terras e não metam o bico por aqui. Somos patriotas, defendemos as cores do nosso Brasil, salve, salve, mesmo se forem cinza e carvão! Não estamos queimando nada, mas se estivermos a floresta é nossa, queimamos até as raízes se quisermos!”.
E isso me lembrou os anos 60-70, quando provavelmente esses mesmos, mais jovens, diziam, não eram ainda os evangélicos: “Brasil, ame-o ou deixe-o!”
Naquela época, não eram incêndios e queimadas, mas o Brasil já era um fiasco na ONU e no mundo.
Será que o desmatamento da Amazônia para criar gado e plantar soja poderia ser comparada com a campanha do Petróleo é Nosso?
Não! A destruição das florestas e a transformação da região em pastos para gado é um dos fatores importantes no clima do planeta. Faz alguns anos, vem acontecendo um aquecimento responsável pelo desaparecimento gradativo das geleiras em todo mundo, os oceanos começam a invadir as regiões costeiras. No polo sul, vem se acelerando o derretimento da calota de gelo da Antártida. Entre os países mais ameaçados está a Holanda, onde trabalhos faraônicos vêm sendo feitos para proteger suas costas.
Porém, os patriotas brasileiros poderão responder — “e daí? o que o Brasil tem a ver com isso?” Ora, os holandeses temem um anunciado aumento do nível do mar de 1,5 metro, até o fim deste século. Porém, se houver uma aceleração do aquecimento da temperatura terrestre, as previsões são de 2,5 metros.
Só na Holanda? Não, nas costas brasileiras também porque vivemos num planeta, somos uma comunidade mundial. Isso quer dizer o seguinte: nós não poderemos evitar, com nossas patriotadas, que o Oceano Atlântico engula nossas mais belas praias e invada todas nossas cidades costeiras. As áreas planas junto ao rio Amazonas também serão inundadas e nas terras hoje desmatadas para se criar gado, não se poderá nem plantar. Talvez só criar peixes!
O desmatamento de hoje, além de ser um crime ambiental, é uma lenta auto-destruição de nosso território. Uma loucura, condenada pelos cientistas, não só estrangeiros, como também brasileiros. Como se dizia no filme Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha — “o sertão vai virar mar e o mar vai virar sertão”. Publicado originalmente no site do Observatório da Imprensa, com ilustrações do blog Náufrago da Utopia.
Brasil, ame-o e deixe-o queimar
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Quarta, 30 de Setembro de 2020 às 08:15, por: CdB
Discurso do beato Sebastião, ersatz de Antônio Conselheiro, em Deus e
o Diabo na Terra do Sol. É quando ele diz que o sertão vai virar
mar e o mar virar sertão, frase livremente inspirada numa profecia
atribuída ao fanático de Canudos, segundo a qual o sertão viraria mar.