Centenas de sunitas reuniram-se, nesta terça-feira, no Iraque, para demonstrar sua tristeza e irritação com o enforcamento de Saddam Hussein. O governo prometeu investigar o vídeo feito ilegalmente no qual funcionários xiitas aparecem humilhando o ex-ditador. No vídeo, aparentemente gravado num celular, vozes são ouvidas gritando o nome do clérigo xiita Moqtada Al Sadr. O fato pode agravar ainda mais as tensões entre sunitas e xiitas no Iraque.
Um dirigente do principal bloco parlamentar sunita disse que o vídeo, gravado na madrugada de sábado, instantes antes do enforcamento, vai prejudicar os esforços do primeiro-ministro Nuri Al Maliki, um xiita, para reconciliar o país.
- A grande questão agora é até que ponto o governo fala sério ao propor a reconciliação nacional. Terá de provar - disse Saleem Al Jibouri, da Frente do Acordo Iraquiano, à agência inglesa de notícias Reuters.
O túmulo de Saddam em Awja, sua aldeia natal, atraiu centenas de simpatizantes na terça-feira, como vem ocorrendo diariamente desde o enterro, na calada da noite de sábado para domingo. Em Mosul (norte do país), centenas de pessoas saíram às ruas levando fotos de Saddam e cartazes referindo-se a ele como mártir e herói. Bairros sunitas de Bagdá e outras cidades têm manifestações semelhantes desde sábado.
A rápida execução, apenas quatro dias depois da confirmação da sentença pela Justiça, agradou aos xiitas, mas irritou a minoria sunita, especialmente por ter coincidido com o primeiro dia do feriado islâmico do Eid Al Adha. Um assessor do primeiro-ministro disse à agência norte-americana de notícias Associated Press (AP) que o governo está investigando como as pessoas filmaram e provocaram Saddam na forca, transformando a execução num espetáculo televisivo.
Khudayer Al Khuzai, que substitui o ministro da Justiça, em viagem ao exterior, disse que aparentemente alguns guardas violaram as ordens de não levar celulares e câmaras para o recinto.
- Essa operação deveria ter sido feita dentro dos mais elevados padrões de disciplina e com respeito pelo condenado, tanto quando ele estava vivo quando depois de morto - disse o funcionário, prometendo punições.
Jardineiro
Saddam Hussein regava plantas no jardim da prisão, guardava pão para dar aos pássaros e usava café e charutos para manter sua pressão sanguínea sob controle, segundo o enfermeiro militar que cuidou dele na prisão em Bagdá. Em entrevista dada ao jornal americano St. Louis Post Dispatch, o sargento Robert Ellis, de 56 anos, deu detalhes sobre os últimos meses de vida do ex-presidente iraquiano na prisão - que era chamado de "Victor" entre os militares no campo - situada na região norte da capital do Iraque.
Ellis foi o responsável pela saúde de Saddam entre 2004 e 2005. Segundo o enfermeiro, Saddam escrevia poesias, lembrava de quando contava histórias para suas filhas antes de dormir e guardava pão para poder alimentar os pássaros.
- Meu trabalho era mantê-lo vivo e com saúde, para que eles pudessem matá-lo num momento posterior - afirmou o sargento.
O enfermeiro contou que Saddam ficava numa cela de cerca de quatro metros quadrados em Camp Cropper, onde outros prisioneiros importantes também estão presos. Em sua cela, ele tinha à sua disposição uma cama, duas cadeiras plásticas, um manto para orações e duas bacias para se lavar. Sua saúde era avaliada duas vezes ao dia para que os oficiais pudessem acompanhar a situação.
Saddam dizia a Ellis que charutos e café ajudavam a manter a sua pressão sanguínea baixa e, segundo o enfermeiro, "parecia funcionar".
Greve de fome
Num determinado momento, Saddam Hussein começou uma greve de fome, recusando-se a comer a comida que os soldados colocavam embaixo da porta. Quando eles passaram a abrir a porta para levar o alimento ao ex-líder iraquiano, ele voltou a comer.
- Ele se recusava a ser