Delgatti disse aos parlamentares que se reuniu com Bolsonaro no Palácio do Alvorada, no ano passado, e respondeu às perguntas do mandatário neofascista sobre a possibilidade de ele fraudar as urnas eletrônicas.
Por Redação - de Brasília
Ex-ajudante de ordens do então presidente Jair Bolsonaro (PL), preso há três meses em uma unidade militar, o tenente-coronel Mauro Cid chegou à sede da Polícia Federal (PF) na manhã desta segunda-feira, para prestar novo depoimento. Dessa vez, responderá sobre o relato do ‘Hacker de Araraquara’ Walter Delgatti, à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro (8/1).

Delgatti disse aos parlamentares que se reuniu com Bolsonaro no Palácio do Alvorada, no ano passado, e respondeu às perguntas do mandatário neofascista sobre a possibilidade de ele fraudar as urnas eletrônicas. O marginal disse ainda, à CPMI, que a deputada Carla Zambelli (PL-SP), “por ordem do presidente Bolsonaro”, pediu-lhe para tentar forjar os equipamentos e que Bolsonaro lhe deu “carta branca para agir, até mesmo na ilegalidade”.
Mauro Cid está preso desde maio, sob suspeita de liderar um esquema de falsificação de cartões de vacinação que beneficiou a si mesmo e a Bolsonaro, dentre outros. Segundo investigações da PF, as fraudes nos cartões de vacinação ocorreram entre novembro de 2021 e dezembro do ano passado. Por decreto, Bolsonaro havia determinado sigilo em seu cartão de vacinação por um período de 100 anos, mas a resolução foi derrubada no atual governo.
Delação
Cid também é citado em investigações sobre os atos antidemocráticos, assim como sobre o caso das joias sauditas, o que poderá vir à tona caso ele aceite a proposta da relatora da CPMI do 8/1, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), de acordo de delação premiada. A medida é inédita na História do Parlamento brasileiro. A senadora aguarda, no entanto, a aprovação da delação em Plenário; a manifestação da Procuradoria-Geral da República (PGR) e homologação do STF.
A situação de Mauro Cid é tão delicada que analistas do meio militar já consideram certa a sua expulsão do Exército. Embora a família de Mauro Cid possa ser preservada das consequências financeiras desta que seria uma catástrofe na vida do militar ao ser considerado como "morto fictício", o que abriria caminho para que a mulher seja reconhecida como viúva, tendo direito a uma pensão correspondente à última patente de Cid, a repercussão moral para a família seria irreparável.
Cid estaria, uma vez expulso do Exército, em situação semelhante à do ex-militar Ailton Barros, também envolvido em um caso de fraude em cartões de vacinação e atualmente preso junto ao ex-ajudante de ordens. Ailton Barros, defenestrado do Exército em 2006, teve sua mulher reconhecida como viúva e recebe uma pensão integral desde 2008.
Estratégia
Diante dos escândalos que pipocam nas Forças Armadas, e com o avanço das investigações envolvendo militares, o Ministério da Defesa e o comando do Exército colocaram em marcha, nas últimas semanas, uma estratégia para evitar maiores danos à imagem da corporação. O general Tomás Ribeiro Paiva tem conduzido uma série de reuniões com integrantes da CPMI do 8/1, incluindo a relatora Eliziane Gama; o presidente, deputado Arthur Maia (União-BA) e o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), líder do governo no Congresso.
Nestes encontros com os parlamentares, o general destacou a importância de “preservar a instituição”, “individualizar as condutas” e evitar generalizações que prejudiquem a imagem do Exército. De acordo com informações de participantes destas reuniões que chegaram à mídia conservadora, em nenhum momento o general abordou a proteção de militares específicos. No entanto, nas entrelinhas, o recado ficou implícito: existe preocupação quanto a pedidos de convocações e quebras de sigilo das patentes mais altas.
Até agora, a CPMI já requisitou o comparecimento de seis militares para prestar depoimento. Dentre eles, três são generais: o ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) Gonçalves Dias, que será ouvido na próxima semana; o ex-comandante militar do Planalto, Gustavo Dutra; e o ex-ministro do GSI, Augusto Heleno.