Ministro do STF, Gilmar Mendes perde as estribeiras e chama Joesley, delator da Lava Jato de "delinquente" e "chantagista".
Por Redação - de Brasília
Dono da JBS e principal delator da Operação Lava Jato, no Supremo Tribunal Federal (STF), o empresário Joesley Batista informou à Polícia Federal (PF) que não compareceria ao depoimento marcado para esta terça-feira. Ele prestaria esclarecimentos sobre as operações Bullish e Greenfield. Agora, no entanto, precisará explicar também o teor do áudio vazado para a mídia conservadora, nesta manhã.
A data do depoimento havia sido marcada antes da abertura da investigação na Procuradoria Geral da República (PGR) anunciada por Rodrigo Janot na noite passada. A investigação pretende apurar a omissão de informações na delação premiada de Joesley e outros empresários do frigorífico.
Delinquente
Nas gravações que ocorreram, aparentemente, sem o conhecimento de Joesley Batista, envolveriam quatro ministros do STF. O inteiro teor ainda seguia em segredo de Justiça, embora trechos tenham sido divulgados por meios de comunicação, na internet. Os magistrados citados podem estar comprometidos por menções na gravação.
Uma dessas menções foi considerada “gravíssima” pelos procuradores. Fontes com acesso ao áudio integral revelaram jornalistas que os ministros são citados por Batista e Ricardo Saud em situações com “diferentes níveis de gravidade”. Algumas são consideradas banais, mas “ruins” para a imagem dos ministros. Uma delas, no entanto, tem o poder de enredar um dos onze ministros da corte em um episódio que parece “mais comprometedor”. Este, no caso, seria o ministro Gilmar Mendes.
No início desta tarde, Gilmar Mendes reagiu de forma extrema ao anúncio de Rodrigo Janot, na noite passada. Em Paris, onde se encontra para uma série de compromissos, Mendes disse que Janot, ao anunciar o novo áudio da JBS que cita ministros do STF em um contexto de possíveis irregularidades, "mais uma vez, deu curso à sua estratégia de delinquente e fez uma chantagem” com o Supremo.
‘Tampa do caixão’
Para Gilmar, a gravação pode ter citações aos ministros, mas nenhuma prova sobre algo que os comprometa. O ministro acredita que "os órgãos de investigação no Brasil terão de ser recompostos a partir desses fatos”; assim como revistos os papéis do Ministério Público e da PF.
O áudio integral tem mais de quatro horas e registra uma conversa entre Joesley Batista e Ricardo Saud. A gravação teria ocorrido, provavelmente, dia 17 de março, segundo Janot. No início da gravação, os dois conversam sobre a influência que têm sobre o MP, através do ex-procurador Marcelo Miller, ex-braço direito de Janot. O empresário fala em "ser a tampa do caixão" na política brasileira.
Em um dos pontos mais sensíveis do áudio, os diretores da JBS afirmam que a “Fernanda (possivelmente a advogada Fernanda Tórtima) surtou”. No decorrer do processo, dependendo das autoridades citadas, os delatores poderiam “entregar” o STF.
Investigação
Poucas horas depois do anúncio da existência do áudio, a primeira parte da conversa, que tem duração de quatro horas foi vazada. Nos primeiros 30 minutos da gravação, no qual o empresário comenta com o ex-executivo da J&F Ricardo Saud que eles precisariam estar “cem por cento alinhados com o Marcelo... Nós dois temos que operar o Marcelo direitinho pra chegar no Janot”.
— É o que falei com a Fernanda (a advogada citada. Nós nunca podemos ser o primeiro, nós temos que ser o último, nós temos que ser a tampa do caixão… ‘Fernanda, nós nunca vamos ser quem vai dar o primeiro tiro, nós vamos o último... Vai ser que vai bater o prego da tampa… Nós fomos intensos pra fazer, temos que intensos pra terminar — diz Batista, em um dos trechos da gravação.
Diante dos fatos expostos, Janot, pediu a abertura de uma investigação para apurar indícios da prática de crimes omitidos por delatores da J&F. A consequência mais dramática seria a rescisão dos benefícios concedidos. Janot, porém, destacou que as provas apresentadas por eles até o momento continuam válidas.
— Determinei hoje a abertura de investigação para apurar indícios de omissão de informações sobre a participação em crimes. São áudios com conteúdo gravíssimo que foram obtidos pelo MPF na semana passada. A análise revelou diálogo entre dois colaboradores com referências indevidas à PGR e ao STF — disse Janot, na véspera.
Indícios ‘gravíssimos’
A gravação integra os documentos disponibilizados na quinta-feira, pela JBS. Foram entregues em cumprimento do prazo inicial de complementação da delação da holding. Este se encerrava na quinta-feira passada.
Segundo Janot, os áudios trazem indícios de condutas criminosas atribuídas ao ex-procurador da República Marcelo Miller. Ele era um auxiliar direto do procurador-Geral Posteriormente, Miller foi trabalhar em um escritório de advocacia que atende a JBS. Essa movimentação de Miller foi alvo de fortes críticas do presidente Michel Temer e de aliados do chefe do Executivo.
Janot também revelou que as conversas citam autoridades da PGR e do STF. Ele confirmou que submeteria o áudio ao ministro do STF Edson Fachin, relator do caso na Corte. Cabe a ele avaliar qual o melhor procedimento a ser adotado. A descoberta do áudio, segundo o chefe do Ministério Público Federal, se deu no domingo pela manhã. Uma procuradora da força-tarefa da Lava Jato no Supremo percebeu que a conversa não tinha ligação com a complementação dos anexos apresentados. Após ouvir a gravação, ela classificou-a de “absolutamente exótica”.
— Os indícios são gravíssimos, gravíssimos, as insinuações são muito graves — concluiu.