Israel tem reiterado que o Irã é uma ameaça nuclear e que enfrenta uma “guerra existencial”. Ataques israelenses têm sido lançados com objetivo de frear os avanços do programa nuclear iraniano e comprometer a infraestrutura do país.
Por Redação, com Reuters – de Londres
Ao menos 14 cientistas nucleares iranianos foram mortos nos ataques israelenses realizados desde sexta-feira, incluindo mísseis e carros-bomba, segundo a agência inglesa de notícias Reuters com base em relatos de duas fontes no Golfo, neste domingo.

Israel tem reiterado que o Irã é uma ameaça nuclear e que enfrenta uma “guerra existencial”. Ataques israelenses têm sido lançados com objetivo de frear os avanços do programa nuclear iraniano e comprometer a infraestrutura do país.
Segundo o sociólogo e especialista em Relações Internacionais Marcelo Zero, em artigo publicado no site de notícias Viomundo, “o programa nuclear do Irã, que tem abrigo jurídico no TNP, foi criado ainda na década de 1950, mediante acordo entre os EUA e o Xá do Irã, no âmbito do projeto ‘Átomos Para a Paz’, de Eisenhower”.
“Antes de tudo, é preciso afirmar que qualquer país signatário do TNP, tal como o Irã, tem o direito de ter um programa nuclear para fins pacíficos e de enriquecer urânio, como o Brasil faz. Isso está previsto explícita e claramente no TNP:5” escreve Zero.
Resistência
“Os governos iranianos, desde a época do Xá (Reza Pahlavi), ditador brutal, queridinho do Ocidente, investiram bilhões de dólares em seu programa nuclear, que sempre teve como principal objetivo prover o Irã de energia elétrica, para poder exportar mais petróleo e desenvolver pesquisas médicas”, acrescentou.
Ainda segundo o analista “é evidente que o Irã não vai desistir de um programa nuclear que já tem mais meio século e no qual foram investidos bilhões dólares. É óbvio também que o Irã vai opor feroz resistência a renunciar inteiramente ao enriquecimento de urânio, algo que não é vedado pelo TNP”.
O primeiro reator nuclear iraniano, inteiramente construído pelos EUA, começou a operar em 1967, com urânio medianamente enriquecido (urânio enriquecido a cerca de 20%). Posteriormente, o Xá firmou um acordo para que os EUA construíssem no Irã 23 usinas nucleares até o ano 2000.
Ciclo nuclear
Outras potências se juntaram a esse esforço. A Alemanha firmou, em 1975, acordo com Teerã para a construção de duas grandes centrais nucleares baseadas em água pressurizada, um investimento de US$ 6 bilhões.
A França criou com o Irã a Sofidif (Société franco–iranienne pour l’enrichissement de l’uranium par diffusion gazeuse), mediante um investimento de US$ 1 bilhão. Com a sociedade criada, o Irã teria o direito de usar 10% do urânio enriquecido produzido.
“Mas não ficou só nisso. Em 1976, os EUA ofereceram ao Irã uma usina de reprocessamento de material radioativo, que permitiria aos iranianos o domínio de todo o ciclo nuclear e a fabricação de plutônio, material com o qual se pode construir uma bomba atômica”, pontuou Zero.
Resolução
Ainda segundo Zero, “essa questão do programa nuclear iraniano poderia já estar resolvida desde 2010, com a iniciativa brasileira. A questão é que não querem resolver, assim como não deixaram o nosso embaixador Bustani resolver a fictícia questão das armas químicas do Iraque”.
“A coisa tende a ficar feia, caso Israel insista na guerra, a qual não poderá ser, evidentemente, uma guerra de ocupação. O Irã não é Gaza. Os EUA, embora finjam não apoiar a guerra que se inicia, vão apoiar Netanyahu em tudo que precisar.
“Mas uma civilização de 5 mil anos não se extinguirá em alguns dias. O Irã já demonstrou ter resiliência extrema. É mais fácil Trump e Netanyahu caírem”. conclui.