O crime havia ocorrido, sim, mas há séculos. Dez anos após a descoberta, as autoridades anunciaram na semana passada ter determinado que os crânios são de vítimas de assassinatos cometidos durante sacrifícios humanos, entre 900 e 1.200 DC.
Por Redação, com NY Times - da Cidade do México
Autoridades de Chiapas, Estado do sul do México, entraram numa caverna escura, em 2012, e se depararam com uma visão horripilante, com cerca de 150 crânios espalhados no chão, todos com dentes faltando e alguns ossos esmagados. De imediato, os investigadores pensaram se tratar da cena de um crime envolvendo migrantes mortos perto da fronteira com a Guatemala, onde a violência de gangues é comum. A polícia abriu uma investigação.
Os crânios encontrados não tinham dentes, segundo observou um dos arqueólogos
O crime havia ocorrido, sim, mas há séculos. Dez anos após a descoberta, as autoridades anunciaram na semana passada ter determinado que os crânios são de vítimas de assassinatos cometidos durante sacrifícios humanos, entre 900 e 1.200 DC.
— Já amealhamos bastante informação. Mas é importante indagar: o que esses crânios estavam fazendo naquela caverna? — disse ao diário norte-americano The New York Times um arqueólogo que analisou os ossos, Javier Montes de Paz.
‘Tzompantli’
Pesquisadores do Instituto Nacional de Antropologia e História analisaram marcas nos ossos e determinaram que as mortes ocorreram no florecer das civilizações mesoamericanas. Essas marcas somente apareceriam passado "muito, muito tempo", disse Montes de Paz.
Os pesquisadores descobriram que as vítimas tinham sido decapitadas, que a maioria dos ossos era de mulheres, e que todas apresentavam dentes faltando, embora não esteja claro se foram extraídos em vida ou após a morte das vítimas, disse o arqueólogo. Os pesquisadores também encontraram restos esqueletais de três crianças pequenas.
A pilha de ossos pré-hispânicos na caverna de Comalapa provavelmente era um ‘tzompantli’ —um altar, feito para a adoração a deuses, que teria se parecido com uma estante moderna para troféus esportivos, com os crânios colocados sobre varas de madeira alinhadas. De acordo com a revista norte-americana Smithsonian Magazine, práticas semelhantes eram comuns entre os maias, astecas e outras civilizações da Américas Central.
Antropologia
Segundo Montes de Paz, o material de madeira "se decompôs ao longo do tempo e pode ter feito os crânios caírem ao chão”. Pesquisadores também encontraram varas de madeira alinhadas na caverna – outro sinal de um ‘tzompantli’, segundo declaração do Instituto Nacional de Antropologia e História.
Os pesquisadores ainda não concluíram seus estudos, mas, segundo Montes de Paz, o mais provável é que a caverna tenha sido usada por várias comunidades mesoamericanas. Suas duas entradas são tão íngremes que os cientistas tiveram que usar uma escada para entrar. Não está claro como os crânios foram descobertos uma década atrás, nem por quem. As autoridades disseram que uma queixa os alertou da descoberta feita na cidade de Carrizal, no município de Frontera Comalapa.
Antropologistas que estudaram os crânios identificaram outros fragmentos de ossos na caverna, incluindo um fêmur e pedaços de braços. Mas não foram encontrados restos mortais intactos. A invasão espanhola ocorreu há cerca de 1.500. Segundo a Smithsonian Magazine, quando os espanhóis chegaram, ficaram com medo dos rituais.
História
Mas os sacrifícios parecem ter sido comuns em Chiapas, região mexicana que hoje vive sob o regime de terror de um poderoso cartel de drogas. O Instituto Nacional de Antropologia e História revelou que nos anos 1980 antropólogos exploraram a caverna Cueva de las Banquetas e encontraram 124 crânios sem dentes. Em 1993, exploradores mexicanos e franceses em Ocozocoautla foram a outra caverna, a Cueva Tapesco del Diablo, que continha cinco crânios.
O arqueólogo disse que sua equipe está ansiosa para explorar mais extensamente a caverna de Comalapa.
Ele recomendou que, se pessoas foram a locais como esses futuramente e se depararem com crânios, que não toquem em nada, pois isso pode afetar a integridade arqueológica do sítio. Segundo ele, as pessoas que encontraram os crânios em Chiapas em 2012 tocaram acidentalmente em alguns dos ossos.
— Você afeta a história. E muitas informações se perdem — concluiu.