O governador Sérgio Cabral Filho sacramentou, publicamente, seu rompimento com os ex-governadores Anthony Garotinho e Rosinha Matheus. Recusada há menos de um mês por Rosinha, que não autorizou a contrapartida de R$ 12 milhões que deveria ser dada pelo Governo do Estado para obras em favelas da cidade, a ajuda federal foi prontamente aceita pelo novo governador e selou a ruptura com os antecessores que já se desenhava depois que Garotinho e Rosinha referiram-se publicamente às primeiras medidas tomadas por Cabral Filho no governo com termos como "jogo sujo" e "amarga traição".
Segundo interlocutores, a "falta de reconhecimento" do novo governador ao que foi feito em seus governos é o que mais têm magoado Garotinho e Rosinha. Além de não gostarem do teor crítico das recentes declarações públicas de Cabral Filho, os ex-governadores teriam ficado contrariados com a nomeação de petistas para o primeiro escalão do governo, sobretudo no caso da também ex-governadora Benedita da Silva, desafeto do casal, nomeada para a Secretaria de Ação Social. A gota d'água para o mal-estar dos Garotinho foi o anúncio, feito por Benedita na semana passada, do fim do Cheque-Cidadão, carro-chefe dos programas sociais do governo nos últimos oito anos, que será extinto e integrado ao Bolsa-Família do governo federal.
O Cheque-Cidadão atende a 100 mil pessoas, que recebem do governo estadual R$ 100 por mês para trocar por alimentos ou artigos de higiene pessoal. Com o fim do programa, esse contingente será incluído no Bolsa-Família que, segundo o governo federal, já atende a 450 mil pessoas no Rio de Janeiro:
- Nossa intenção é dobrar esse número, fazendo com que todas as famílias que estejam abaixo da linha de pobreza sejam incluídas no Bolsa-Família. Não é uma mudança apenas de nomenclatura, mas uma mudança de política - disse Benedita.
O governador assina embaixo:
- Não se trata de uma disputa de slogan. O projeto da secretária Benedita da Silva vai permitir um melhor atendimento ao cidadão - disse.
"Jogo sujo" e "amarga traição"
Rosinha, por sua vez, preferiu atacar o sucessor em carta enviada às redações dos principais jornais:
"Não esperava isso do Sérgio Cabral. Começar seu governo tirando logo a comida da mesa dos pobres? Eu e Garotinho sempre pedimos ao Sérgio a manutenção dos projetos sociais. E ele nos dizia que eram intocáveis. Se (o fim do Cheque-Cidadão) vier a acontecer mesmo, será uma amarga traição", escreveu a ex-governadora.
Dias antes, por conta do bate-boca causado pelos recursos deixados no caixa do governo, Rosinha já havia irritado Cabral Filho ao afirmar à imprensa que o novo secretário estadual de Fazenda, Joaquim Levy, teria "aplicado no mercado financeiro" o dinheiro destinado ao pagamento dos servidores que, segundo ela, chegaria a R$ 634 milhões.
- Como posso aplicar recursos que não existem? - reagiu Levy.
Cabral Filho foi além:
- Infelizmente, recebi um caixa muito menor do que foi anunciado pelo governo anterior. Não chega nem perto dos R$ 600 milhões. É um caso de irresponsabilidade fiscal - disse o governador.
Em outra nota enviada aos jornais, Rosinha reafirmou as acusações ao governo do sucessor:
- Garanto que existe dinheiro para pagar em dia os servidores. O que pretendem é aplicar por alguns dias os recursos no mercado financeiro, prejudicando a vida de milhares de cidadãos. Isso é jogo sujo - disse.
"Não tenho tempo para ti-ti-ti"
Calado até então, Anthony Garotinho decidiu também partir para as críticas a Cabral Filho. No dia 14 de janeiro, quando sua filha Clarissa Matheus tomou posse na presidência da Juventude do PMDB do Rio de Janeiro, ele desfiou um rosário de reclamações e acusou o atual governador de montar um governo "elitista e udenista", que nomeou de "República do Leblon", em alusão ao bairro chique da Zona Sul do Rio onde mora Cabral Filho:
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