Rio de Janeiro, 23 de Julho de 2025

Adultos com TDAH enfrentam desafios no dia a dia e no trabalho

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Segunda, 14 de Julho de 2025 às 12:21, por: CdB

Número de buscas sobre o transtorno cresce e reforça a importância do diagnóstico e do tratamento na vida adulta.

Por Redação, com CartaCapital – de Brasília

As pesquisas sobre Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) aumentaram 36% no primeiro semestre de 2025, segundo levantamento da Doctoralia. A plataforma de saúde, que registrou 51 mil buscas pelo termo em 2024, contabilizou 34 mil acessos nos seis primeiros meses deste ano.

Adultos com TDAH enfrentam desafios no dia a dia e no trabalho | Especialistas alertam para sintomas em adultos que impactam rotina, trabalho e autoestima
Especialistas alertam para sintomas em adultos que impactam rotina, trabalho e autoestima

A data de 13 de julho marcou o Dia Internacional do TDAH e reforçou a necessidade de ampliar a compreensão sobre a condição em adultos. Embora o transtorno seja normalmente identificado na infância, ele pode persistir por toda a vida. De acordo com a Federação Mundial de TDAH, 5,9% dos jovens e 2,5% dos adultos no mundo convivem com o diagnóstico.

Segundo Flávia Soccol, Head Global de Patient Care da Doctoralia, esse crescimento nas buscas revela uma demanda por informações confiáveis. Ela destaca que vive essa realidade também de forma pessoal. “Descobrir a neurodivergência na minha família foi recente. Falar sobre o tema ajuda a diminuir o estigma e incentiva o acolhimento e a busca por ajuda”.

Sinais na idade adulta

O psiquiatra Pietro Figueiredo Mylla, parceiro da Doctoralia, afirma que a percepção do TDAH ainda está limitada à imagem de crianças inquietas. Entretanto, ele explica que o quadro muda na fase adulta. “A inquietação tende a diminuir com o tempo. O que se mantém é a dificuldade de concentração.”

Segundo a psiquiatra Adriele Neves, especialista em TDAH, o quadro pode comprometer a vida profissional e social de quem não tem acompanhamento. Ela alerta para a variedade de sintomas e a dificuldade em obter o diagnóstico correto. “Em adultos, a manifestação do transtorno pode ser mais sutil, mas seus efeitos são profundos.”

A Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA) estima que entre 5% e 8% da população mundial apresenta o transtorno. No Brasil, dados do Ministério da Saúde apontam uma prevalência de 7,6% em crianças e adolescentes entre 6 e 17 anos. Entre adultos de 18 a 44 anos, o índice é de 5,2%. Acima dos 44 anos, a taxa é de 6,1%.

Diagnóstico tardio e impactos na rotina

Para ser diagnosticado, o TDAH deve apresentar sintomas antes dos 12 anos de idade. No entanto, muitos adultos descobrem o transtorno apenas quando enfrentam dificuldades contínuas no ambiente de trabalho, nos relacionamentos e na organização do cotidiano.

De acordo com o Painel Brasileiro de Especialistas sobre Diagnóstico de TDAH em Adultos, 56% relatam hiperatividade persistente e 62%, impulsividade. Entre os comportamentos comuns, estão esquecimento, atraso, desorganização, dificuldade em concluir tarefas, falas impulsivas e baixa produtividade.

Atividades que exigem atenção prolongada ou que oferecem resultados apenas no longo prazo costumam ser postergadas. Muitas vezes, esses indivíduos desenvolvem estratégias para mascarar ou contornar os sintomas, o que pode atrasar o diagnóstico. Quando não tratados, os riscos aumentam. A probabilidade de acidentes de trânsito é maior entre adultos com TDAH.

O psiquiatra Pietro Figueiredo afirma que os prejuízos incluem efeitos diretos sobre autoestima e bem-estar. “O diagnóstico deve ser considerado quando há sofrimento significativo e impacto no funcionamento geral da pessoa.”

Relação com o aprendizado e autopercepção

As experiências escolares de pessoas com TDAH são marcadas por desafios. Casos de repetência, expulsão ou transferências forçadas são recorrentes, além do preconceito sofrido por parte de professores e colegas. Estudos apontam que essas vivências podem gerar inibição social, dificuldade de expressão emocional e baixa autoestima.

Apesar disso, há adultos que relatam ter desenvolvido maior autonomia ao longo do tempo. Muitos criam métodos próprios de organização e enfrentamento, o que pode dificultar o reconhecimento do transtorno por terceiros.

Tratamento exige acompanhamento especializado

O diagnóstico na vida adulta costuma enfrentar barreiras. É comum que a pessoa passe anos tentando entender dificuldades constantes em manter emprego, relações ou uma rotina mínima.

Segundo Adriele Neves, diferenciar o TDAH de outros transtornos mentais ou de traços de personalidade exige avaliação profissional. “É necessário buscar especialistas com experiência para que o diagnóstico seja preciso e o tratamento adequado.”

O tratamento pode incluir medicamentos, acompanhamento psicoterapêutico e mudanças no comportamento e no estilo de vida. Para Adriele, o 13 de julho ajuda a lembrar da importância de combater o preconceito e de oferecer suporte aos pacientes. “A informação ajuda a reduzir o estigma. Reconhecer o TDAH é um passo para melhorar o desempenho profissional e a vida pessoal.”

Pietro Figueiredo reforça que o diagnóstico e o tratamento devem ter base científica. “A condução do caso deve estar nas mãos de profissionais médicos capacitados, com propostas terapêuticas sustentadas por evidências.”

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