O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), anunciado nesta semana pelo presidente Lula numa concorrida solenidade, está dando o que falar. Setores da oposição de direita, temerosos com o sucesso do plano, criticam a ausência de cortes dos gastos públicos e da contra-reforma da Previdência. Economistas avessos à lógica neoliberal elogiam a maior presença do Estado, mas condenam a manutenção das travas macroeconômicas. Já os movimentos sociais apostam no desenvolvimento, mas lamentam a inexistência de metas concretas de geração de emprego e rejeitam o uso do FGTS e o arrocho dos servidores públicos.
Como não rasga dinheiro, a nata de empresariado, com exceção do agronegócios, aplaudiu o plano por ele representar mais investimentos públicos, mais crescimento e, logicamente, mais lucros. Mas não deixou de criticar o que considera as principais lacunas do PAC, repetindo a ladainha neoliberal: a falta de cortes "mais rigorosos" dos gastos correntes com serviços e servidores públicos e a ausência das chamadas "reformas estruturais", com destaque para a trabalhista, a tributária e a previdenciária. Na prática, a elite burguesa gostaria que Lula aplicasse a plataforma do seu candidato derrotado à sucessão presidencial.
Já uma parte da mídia, servil aos interesses empresariais e palanque da oposição de direita, bombardeou o programa. Um dia após seu anúncio, a Folha de S.Paulo nem nuançou os elogios ao PAC e estampou na manchete: "Plano de Lula é criticado por empresários e governadores". Seu encarte especial destilou puro veneno e seu editorial vaticinou: "O governo perdeu uma rara oportunidade de acenar com medidas mais firmes na área fiscal, que objetivassem a queda das chamadas despesas correntes do Estado". O Estado de S.Paulo repetiu o bordão. Após elogiar a manutenção do rigor fiscal e das metas de inflação, ele fustigou "a paquidérmica ineficiência da máquina estatal" e cobrou a "indispensável reforma da Previdência".
Postura ainda mais esquizofrênica foi adotada por alguns expoentes da oposição liberal-conservadora, que acusaram o programa de "estatizante, na linha do populismo radical que contamina a América Latina". O sociólogo Leôncio Martins Rodrigues, um dos ideólogos do tucanato, sugeriu que o PAC pode servir para "pavimentar o terceiro mandato de Lula". O deputado José Aníbal, batizado entre seus pares do PSDB de "José Canibal", aderiu à tese conspirativa. "A tentação é real. O Fernando Henrique concorda comigo". Outro que comprou a idéia foi o deputado Raul Jungmann, deputado do PPS que gosta de posar de vestal da ética e que agora é acusado de desvio de dinheiro do Incra durante a sua gestão no governo FHC. "O programa não tem compromisso com o corte de gastos e sim com o aumento das despesas".
Entre os economistas contrários ao neoliberalismo, o PAC foi bem recebido, como registrou o artigo de Gilberto Maringoni na Agência Carta Maior. "A divulgação do Programa de Aceleração do Crescimento representa uma mudança significativa no ambiente econômico brasileiro, avaliam os economistas Ricardo Carneiro, da Unicamp, e João Sicsú, da UFRJ. A alteração poderia ser sintetizada pela idéia de que sai de cena a era da 'mão invisível do mercado', para usar a conhecida imagem de Adam Smith (1723-1790). Em seu lugar, entra a mão visível do Estado". Os dois intelectuais concordam que o papel do Estado passa a ser central no novo programa econômico do governo Lula, embora não tenha um viés estatizante.
"A retomada do papel do Estado se dá no planejamento, na definição de prioridades e na articulação entre os setores público e privado", explica Ricardo Carneiro, para quem o PAC possui três pilares: o Projeto Piloto de Investimentos (PPI), a desoneração tributária e a ampliação do financiamento para os setores público e privado. No mesmo rumo, João Sicsú afirma que o plano opera contra a lógica neoliberal. "Ele tem outra matriz. É a idéia de que o setor público atrai investimentos