O presidente Luiz Inácio Lula da Silva mandou um recado, em tom de ordem, ao ex-ministro da Casa Civil José Dirceu que freie a articulação para apresentar um projeto de anistia à Câmara dos Deputados - ele foi cassado em 2005. O contato foi feito por um emissário do presidente com boa relação com Dirceu.
O ex-ministro pediu que o emissário tranqüilizasse Lula. Dirceu disse que não pretende articular a apresentação do projeto antes de o Supremo Tribunal Federal (STF) se manifestar a respeito da denúncia do procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza, que o acusou de chefiar a "quadrilha" do mensalão. Dirceu nega.
Há previsão de que o STF só se manifeste em setembro, numa hipótese de tramitação rápida do processo. Se isso ocorrer, o projeto só será apresentado no segundo semestre. Dirceu disse que submeter o projeto agora à Câmara, por meio de um deputado do PT, só reforçaria a resistência à anistia.
O ex-ministro disse ao emissário que acredita que a denúncia de Souza não tem "fundamentação técnica" e que espera que o STF a recuse. Se isso ocorrer, crê Dirceu, o projeto de anistia ganharia força política, podendo até ser assumido pelo PT e os aliados do governo no Congresso Nacional.
Em conversas reservadas, Lula tem manifestado a preocupação de que a anistia a Dirceu aumente o tom da guerra interna que vem sendo travada no PT a respeito do 3º Congresso do partido, previsto para ocorrer em julho, em Brasília.
Essa guerra poderia influenciar negativamente a agenda do governo no Congresso. Lula pediu aos presidentes da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), rapidez na tramitação das medidas legislativas do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).
Ele deverá fazer um discurso nesta sexta-feira, na festa de comemoração dos 27 anos do PT, em Salvador, e deve defender que a prioridade do PT é sustentar o governo e o PAC.
A aliados no PT, Dirceu disse que deve viajar para Salvador. No seu blog, o ex-ministro disse que não está organizando a campanha pela anistia, mas que tem "recebido apoios e apelos nesse sentido" em viagens pelo Brasil.